sábado, 9 de maio de 2020

Papa liga para o dom Odilo Scherer para ter informações da pandemia em SP

O cardeal Dom Odilo Scherer participa do debate entre presidenciáveis, realizado pela TV Aparecida - 20/09/2018© TV Aparecida/Reprodução O cardeal Dom Odilo Scherer participa do debate entre presidenciáveis, realizado pela TV Aparecida - 20/09/2018
O papa Francisco ligou hoje, às 11h40 da manhã, para o celular de dom Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo. O pontífice quis saber como estava a situação da cidade frente a pandemia pelo novo coronavírus e manifestou “grande preocupação pelo número crescente de doentes e pelas perdas de vidas humanas, prometendo rezar por todos”.
Francisco também quis saber como estavam os pobres e expressou sua atenção “pela situação deles, sabendo que nem sempre eles têm casa, nem condições adequadas para seguir as medidas preventivas contra o contágio.

Armado, Roberto Jefferson ameaça "comunistas" e pede "demissão" do STF

O ex-deputado federal e presidente do PTB, Roberto Jefferson, usou as redes sociais, neste sábado (09/05), para pedir que o presidente Jair Bolsonaro demita os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), aos quais chamou de “herança maldita”. Segundo ele, caso Bolsonaro não siga as atitudes que sugere, poderá sofrer um impeachment. “Bolsonaro, para atender o povo e tomar as rédeas do governo, precisa de duas atitudes inadiáveis: demitir e substituir os 11 ministros do STF, herança maldita. Precisa cassar, agora, todas as concessões de rádio e TV das empresas concessionárias GLOBO. Se não fizer, cai”, escreveu. 
  Em outro post, ele aparece segurando uma arma e ameaça “combater os comunistas”.“Estou me preparando para combater o bom combate. Contra o comunismo, contra a ditadura, contra a tirania, contra os traidores, contra os vendilhões da Pátria. Brasil acima de tudo. Deus acima de todos”, concluiu. 

Se presidente vetar reajuste a funcionalismo, equilíbrio fiscal continua, diz Guedes

Para garantir mais recursos privados, Guedes disse que será preciso mudar os marcos regulatórios. © Dida Sampaio/Estadão Para garantir mais recursos privados, Guedes disse que será preciso mudar os marcos regulatórios.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou neste sábado, 9, que se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vetar o reajuste salarial do funcionalismo público fica garantido que, já em 2021, o Brasil volta para a trilha do ajuste fiscal. "Se o presidente vetar esse aumento, como disse que vai fazer, o déficit fiscal extraordinário (por conta das medidas para combate à pandemia) fica restrito a este ano", disse Guedes em videoconferência organizada pelo Itaú BBA.
O ministro afirmou que é preciso garantir que em 2021, os gastos com Previdência, juros de dívida e despesas com funcionalismo sigam controlados. Ele observou que os dois primeiros itens - ou inimigos, como ele denominou - já estão controlados por conta da Reforma da Previdência e pela mudança de política econômica, respectivamente. "Mudamos o 'policy mix', com juros mais baixos e câmbio mais altos, o que derrubou despesas."
Guedes acrescentou que acredita que existe uma consciência hoje no Brasil sobre a necessidade da sustentabilidade fiscal. "Mudamos o regime fiscal. Em vez de freio monetário e 'fiscal' frouxo, passamos para ajuste fiscal, com juros mais baixos e câmbio mais alto", disse. "O que pedimos agora é que o funcionalismo público faça uma contribuição", disse.
Na conferência, o ministro aproveitou para relembrar as medidas tomadas pela equipe econômica para apoiar o consumidor e também as empresas durante a atual crise. Ele avalia que a reação do Brasil foi rápida e acima da média de países avançados. Nesse contexto, Guedes comparou o Brasil aos Estados Unidos. Disse que o governo brasileiro ajudou a preservar mais de 6 milhões de empregos, enquanto os Estados Unidos registraram mais de 20 milhões de desempregados.
O ministro disse que é verdade que o Produto Interno Bruto (PIB) do País está em queda forte, mas ponderou que o governo está mantendo os "sinais vitais da economia" em funcionamento. "Os sinais são interessantes sobre a preservação de saúde e as perspectiva é de saída em "v". O Brasil está surpreendendo. A hipótese menos provável para o Brasil é a da prolongada recessão", previu.

Recuperação em etapas

Segundo Guedes, a retomada da recuperação econômica no Brasil vai acontecer em algumas etapas. A primeira delas é baseada em juros baixos e no aumento da demanda. A segunda é um "crowding in" com investimentos em grandes áreas de interesse internacional como infraestrutura.
"Em primeiro lugar, vemos recuperação cíclica com juros mais baixos, crédito crescendo a dois dígitos para consumo, famílias. A demanda agregada vai crescer com força. Em segundo lugar, será esse 'crowding in', com ingresso de investimentos nacionais e de fora [internacionais] em setores como óleo e gás, infraestrutura", disse.
Para essa onda de investimentos, Guedes afirmou que a primeira medida que precisa ser feita é a aprovação do marco do saneamento público. Ele defendeu que aprovação seja feita em meio à pandemia. "Precisamos de marcos regulatórios para novas fronteiras de investimento", disse Guedes, citando que é preciso também, com urgência, um novo marco regulatório para a área de petróleo (óleo e gás). "
Ele disse, ainda, que o governo vai aproveitar e propor privatizações se a recuperação da economia brasileira vier no segundo semestre. A ideia é, segundo Guedes, realizar quatro, cinco "grandes privatizações".
O ministro da Economia também afirmou que o Brasil é uma democracia vibrante e que vai se tornar uma economia de mercado. Após o fim da pandemia, o ministro afirmou que prevê uma reflexão internacional sobre a forma como a produção é organizada atualmente no mundo - com uma cadeia produtiva global - e que o Brasil vai poder se beneficiar disso.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

A pedido de Bolsonaro, Mourão viajará para a Antártida


A viagem havia sido cancelada por Mourão em novembro do ano passado, por motivos de segurança© Marcos Corrêa/PR A viagem havia sido cancelada por Mourão em novembro do ano passado, por motivos de segurança
O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) viajará para a Antártida no lugar do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A expectativa é de que ele embarque no dia 13 de janeiro e retorne no dia 15. A agenda foi confirmada nesta terça-feira (7/1) pela assessoria. O plano inicial era de que o chefe do Executivo participasse da reinauguração da base da Estação Antártida Comandante Ferraz, destruída em 2012, mas por motivos uma hérnia lateral e para não piorar o quadro de saúde, Bolsonaro decidiu enviar Mourão.
A viagem havia sido cancelada por Mourão em novembro do ano passado, por motivos de segurança. Antes da chegada à Antártida, a equipe passaria em Punta Arenas, no sul do Chile. Na época, a região estava em conflito. Até então, Mourão visitaria as obras de reconstrução da base para ver se estava tudo certo para a ida do presidente.
Ainda na manhã desta terça-feira (7/3), Mourão, foi submetido a um procedimento oftalmológico para remoção de catarata, conforme programação prévia. Em nota, a assessoria informou que o procedimento transcorreu sem intercorrências.
Agenda internacional de Bolsonaro Bolsonaro admitiu ontem (6/1), que existe a possibilidade de não participar do encontro anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça. Segundo ele, "o mundo tem seus problemas de segurança". O chefe do Executivo se referiu indiretamente à crise entre o Irã e os EUA. 
Já na última sexta-feira (3/1), o presidente afirmou que as viagens para Davos e para a Índia estão confirmadas, mas que a morte do general iraniano Qasem Soleimani poderia afetar a agenda dos outros representantes de Estado. "A gente não sabe até que ponto pode impactar também não a minha viagem, mas as de todos os chefes de Estado para Davos, nesta questão. Há uma ameaça do Irã de retaliações e estamos aguardando. Por enquanto, está mantida", disse.
Posteriormente, Bolsonaro deve fazer uma viagem à Índia. Segundo o Palácio do Planalto, o chefe do Executivo aceitou um convite para participar das comemorações pelo dia da República na Índia, no dia 26. Além de buscar aprofundar a cooperação entre os países em áreas de tecnologia, é grande o interesse nas relações comerciais com o país. Bolsonaro comentou também que, neste ano, poderá sair a liberação da isenção de vistos para os indianos.
De lá, Bolsonaro poderá estender a viagem para os Estados Unidos, em fevereiro, para conhecer a tecnologia de "transmissão de energia elétrica sem meios físicos". Ele procura uma possível solução energética para o Estado de Roraima

sábado, 21 de dezembro de 2019

Bolsonaro confirma plano de ‘chapa imbatível’ com Sergio Moro

“Nós somos Zero Um e Zero Dois© Marcos Corrêa/PR/Divulgação “Nós somos Zero Um e Zero Dois
Apesar de dizer que se sente como um prisioneiro sem tornozeleira eletrônica desde que assumiu o governo, Jair Bolsonaro já anunciou que pretende disputar a reeleição. Ele confirma a possibilidade de formar uma chapa com o ministro Sergio Moro. “Nós somos Zero Um e Zero Dois. Tem de ver se ele quer. Nunca entrei em detalhes com ele sobre esse assunto, até porque é cedo demais para discutir, causa ciúme. Você daria um sinal de que não está satisfeito com o Mourão, e da minha parte está tudo tranquilo com o Mourão. O Moro não tinha uma vivência política. A cabeça dele enquanto juiz pensava assim: ‘Se eu fosse presidente, faria isso’. Agora ele conhece a realidade. Mas seria uma chapa imbatível.”
O presidente falou sobre o assunto em entrevista exclusiva a VEJA, no Palácio da Alvorada. Pouco antes da conversa, ele teve a visita de seu advogado pessoal, Frederick Wassef, e descobriu que a tranquilidade era apenas aparente. Um novo e barulhento escândalo envolvendo a família Bolsonaro estaria prestes a explodir. Acertou em cheio.
Na quarta 18, o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro realizou uma megaoperação para desvendar o caso da “rachadinha” que implica seu filho Flávio e o ex-assessor Fabrício Queiroz. “Tenho convicção de que no final vão concluir que o Flávio não tem nada a ver com o problema dos outros. Há uma obsessão do governador do Rio (Wilson Witzel) em ser presidente a qualquer custo”, acusa Bolsonaro, insinuando que tudo não passa de uma armação do agora rival político

‘Troca de ministros pode acontecer de uma hora para a outra’, diz Bolsonaro

Poder em Foco com Fernando Rodrigues em parceria editorial do Poder 360 com o SBT, entrevista o Presidente da República Jair Bolsonaro© Sérgio Lima/Poder360 16.dez.2019 Poder em Foco com Fernando Rodrigues em parceria editorial do Poder 360 com o SBT, entrevista o Presidente da República Jair Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro negou ter a intenção de promover uma minirreforma ministerial, mas disse que eventuais trocas na Esplanada podem “acontecer de uma hora para a outra“. As declarações foram feitas em entrevista ao Poder em Foco, uma parceria editorial do SBT com o jornal digital Poder360. O programa foi gravado na última 2ª feira, dia 16 de dezembro de 2019, e vai ao ar no domingo (22.dez).
Não há intenção, mas pode acontecer de uma hora para a outra. Pode acontecer 1 fato novo. Nós estamos completando o ano sem nenhum caso de corrupção. Pode ser que haja 1 caso de corrupção? Pode. Por que não?”, afirmou o presidente. “Toda vez que tem algum problema eu chamo, a gente conversa. É eu e ele. Mais ninguém. E com toda a liberdade para questionar o que eu estou conversando. E temos nos acertado”, ponderou.
Bolsonaro rebateu notícias publicadas nas últimas semanas a respeito da possibilidade de troca nas pastas da Educação (comandada por Abraham Weintraub), Minas e Energia (Bento Albuquerque) e Casa Civil (Onyx Lorenzoni).
“Eu não posso trocar 1 bom ministro porque seria 1 péssimo exemplo para os demais bons ministros. […] Inclusive teve uma notícia de 1 mês e pouco atrás de que eu ia trocar 3 ministros, entre eles o da Casa Civil. E quem estava elaborando a proposta para trocar os ministros era o Onyx [Lorenzoni, da Casa Civil]! Chegou a esse ponto de ter esse absurdo”, reclamou.
Bolsonaro também falou durante a entrevista sobre seus planos para as eleições de 2020 e 2022, e falou sobre sua saúde e sobre como pretende se comportar com a mídia.
O presidente também elogiou o trabalho da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Para Bolsonaro, a ministra tem feito um bom trabalho mesmo com pouca verba disponibilizada para sua pasta. “É 1 ministério que ninguém pediu para mim, dada a quantidade de problema que tem lá e o orçamento diminuto. Eu estava conversando há poucos dias com o Paulo Guedes [ministro da Economia] e ele falou: ‘o orçamento da Damares, se eu dobrar, eu não vou sentir nada. Se ela pedir pra dobrar eu dobro’. E o trabalho dela é hercúleo, não é fácil“, disse o presidente.
A entrevista com Bolsonaro no Poder em Foco será exibida no SBT no domingo (22.dez), por volta da meia-noite (sempre depois do Programa Silvio Santos). Além da transmissão nacional em TV aberta, a atração também pode ser vista simultaneamente, ao vivo e “on demand” nas plataformas digitais do SBT Online e na íntegra no canal do YouTube do Poder360.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Em delação, ‘Rei Arthur’ confirma compra de votos para Rio-2016

'Rei Arthur' em Miami Beach© Reprodução / TV Globo 'Rei Arthur' em Miami Beach
O empresário Arthur Menezes Soares Filho, conhecido como “Rei Arthur”, confirmou o esquema de pagamento de propina para delegados africanos para a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016, segundo o jornal O Globo.
Arthur foi preso na última sexta-feira (25), em Miami, nos Estados Unidos, ao tentar renovar o visto. A declaração sobre o escândalo de pagamentos ilegais faz parte de um acordo de colaboração premiada feito com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que evitou o risco de deportação para o Brasil.
As investigações mostram que “Rei Arthur” usou a offshore Matlock Capital Group para transferir 2 milhões de dólares para a conta de Papa Diack, filho de Lamine Diack, então presidente da Federação Internacional de Atletismo. Outros 10 milhões de dólares foram mandados para o ex-governador Sergio Cabral através do doleiro Renato Chebar.
O depósito, de acordo com o jornal O Globo, foi feito em setembro de 2009, três dias antes da escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos.
O ex-governador Sérgio Cabral é acusado de receber mais de 10 milhões em propina do empresário entre março de 2012 e novembro de 2013. Preso, ele nega a acusação e diz que não tinha contas no exterior.

Empresário ‘Rei Arthur’ admite compra de votos para escolha do Rio como sede das Olimpíadas, diz jornal

O empresário Arthur Soares.© DIVULGAÇÃO O empresário Arthur Soares.
O empresário Arthur Menezes Soares Filho, conhecido como "Rei Arthur", confirmou em depoimento ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos a existência de um esquema de propina entre representantes brasileiros e africanos do Comitê Olímpico Internacional (COI) que garantiu a escolha do Rio de Janeiro como cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016, aponta reportagem publicada em O Globo. Dono do grupo Facility, que prestava serviços ao ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, ele assinou um acordo de delação premiada no país, onde foi preso na última sexta-feira. Ele estava foragido desde 2017.
Segundo o jornal, Soares confirma que agiu como operador financeiro a pedido do ex-governador. Cabral confirmou o pagamento em depoimento feito no Brasil há três meses. Segundo a Operação Unfair Play, desdobramento da Lava Jato que apura indícios de corrupção na candidatura do Rio como sede olímpica, o empresário transferiu dois milhões de dólares no dia 29 de setembro de 2009, três dias antes da escolha da cidade como sede, através da offshore Matlock Capital Group para a conta bancária do senegalês Papa Diack, filho de Lamine Diack, presidente da Federação Internacional de Atletismo na época "em busca de votos favoráveis à campanha do Rio de Janeiro". A operação teria sido combinada com Leonardo Gryner, braço direito do então presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman.
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Arthur Soares constava na lista de procurados da Interpol e era foragido da Justiça brasileira desde abril de 2017, quando deixou o país para viver em Miami. O empresário foi preso pela imigração americana na manhã da última sexta-feira por falta de visto, mas liberado 24 horas depois. A deportação do alvo da Lava Jato foi impedida pelo acordo de delação e não há prazo para a extradição do brasileiro.

Cabral admitiu propina em julho

O esquema de suborno pela escolha do Rio confirmado por Arthur Soares já havia sido admitido pelo ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, para o juiz Marcelo Bretas no mês de julho. O político, já condenado a 198 anos de prisão em nove processos criminais, prestou depoimento no processo em que é acusado de receber 10,4 milhões de dólares em propina de Arthur Soares e ocultar o valor no exterior entre março de 2012 e novembro de 2013. "Pagamos para ter a garantia dos votos", confessou Cabral na época.
O ex-governador contou que o acordo inicial previa a compra de cinco a seis votos entre os membros africanos do COI e outros ligados à federação de atletismo para o Rio de Janeiro com os 1,5 milhão de dólares. No entanto, na noite de 14 de setembro de 2009, os representantes se encontraram em um salão nobre de Paris para uma festa que ficou conhecida como "Farra dos Guardanapos", onde Lamine Diack pediu mais 500.000 dólares para conseguir até nove votos. Cabral diz ter aceitado a oferta. A escolha pelo senegalês, segundo o então governador, se deu graças a uma sugestão de Carlos Arthur Nuzman, que citou Diack como alguém que "se abre para vantagens indevidas". Com nove votos a menos, o Rio de Janeiro não teria superado a candidata Chicago na primeira fase da eleição.
Lamine Diack permanece em prisão domiciliar na França, enquanto seu filho, Papa Diack, é considerado foragido em Senegal. Enquanto Cabral está preso no Rio de Janeiro e Arthur Soares segue vivendo em Miami, Nuzman está em liberdade no Brasil, mas não pode deixar o país. Ele renunciou à presidência do COB e chegou a ser detido pela Unfair Play por 15 dias, mas foi solto com habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça.

sábado, 12 de outubro de 2019

Irmã Dulce: como se constrói a 'imagem oficial' de uma santa?

Para compor a imagem canônica, equipe da Osid estudou trajetória de Irmã Dulce© Acervo Osid Para compor a imagem canônica, equipe da Osid estudou trajetória de Irmã Dulce
Como é decidida a representação oficial de uma santa? Como se compõe a imagem que será, desde a canonização, venerada pelos católicos do mundo?
A canonização de Irmã Dulce pelo papa Francisco, marcada para o domingo (13/10), marcará também a formalização da chamada "imagem canônica". E a criação dessa imagem leva em conta diversos fatores — a maioria ligada ao histórico de milagres e benfeitorias da santa ou santo em questão.
Com dois milagres oficialmente reconhecidos pelo Vaticano, a freira baiana Irmã Dulce ficou conhecida nas ruas de Salvador por uma atitude bem terrena: ao longo da vida, acolheu e cuidou de todas as pessoas que buscaram sua ajuda, especialmente aquelas mais miseráveis.
A trajetória de caridade da freira está agora representada na simbologia da Santa Dulce dos Pobres.
Em sua imagem canônica oficial, Irmã Dulce é vista com seu tradicional hábito azul e branco (vestes de quem integra a congregação de Nossa Senhora da Conceição), traz à mão um terço de Maria — de quem era devota — e carrega no colo uma criança negra, sem roupas, descalça e desnutrida que, de acordo com uma possível leitura iconográfica da peça, representa o menino Jesus.
"Para propor essa imagem, nossa equipe fez a hagiografia do santo, ou seja, estudamos toda a trajetória do indivíduo. Nada representa melhor a vida de Irmã Dulce do que o seu trabalho incansável junto às pessoas mais pobres. E, em Salvador, os mais pobres também são predominantemente negros. Ela mesma falava: 'esse é o meu povo. Em cada pessoa que eu ajudo, eu vejo Jesus'", lembra Osvaldo Gouveia, assessor de Memória e Cultura das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid).
Ao mostrar Irmã Dulce carregando a criança, imagem passa também mensagem sobre força da mulher, diz museóloga.© Acervo Osid Ao mostrar Irmã Dulce carregando a criança, imagem passa também mensagem sobre força da mulher, diz museóloga.
"Mas, vale observar que, apesar de estar desnutrido, a expressão do menino na imagem é de serenidade, não de tristeza, porque quem encontrava Irmã Dulce encontrava a esperança", emenda.

Interpretações diversas

Museólogo e ex-professor de Arte Sacra, Gouveia explica que a leitura iconográfica de cada santo, ou seja, o significado por trás dos símbolos presentes nas imagens, carrega marcas do contexto histórico em que as obras são criadas e subjetividades ligadas àquele personagem.
Santo Antônio, por exemplo, leva o menino Jesus nos braços nas imagens porque teria sido visto conversando com o mesmo ao se abrigar num convento, no século 12.
Já São Cristóvão, que carrega o menino Jesus no ombro, é representado dessa maneira por ter sido um homem muito alto e forte que, tendo vivido no século 3, certa feita teria carregado Jesus na travessia de um rio.
"A leitura é particular, por isso há espaço para muitas interpretações. No caso da imagem da Santa Dulce, a gente vê entre os devotos. Popularmente, é muito forte essa associação da criança negra com o menino Jesus, especialmente na Bahia", completa Gouveia.
Equipe das Osid também sugeriu ao Vaticano uma imagem em que, além da criança, há uma mulher idosa© Acervo Osid Equipe das Osid também sugeriu ao Vaticano uma imagem em que, além da criança, há uma mulher idosa
Afastando a associação direta, Dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, opta somente pela leitura histórica. "Irmã Dulce acolheu muitas crianças pobres (o primeiro atendimento que ela deu foi a um menino de 15 anos). Ela morava em Salvador, onde 80% da população é afrodescendente. Então, ao se pensar em uma imagem dela, não poderia faltar uma criança afrodescendente. Ela via em cada criança (mas também em cada doente, pobre, abandonado, idoso) o próprio Jesus", afirmou em e-mail à BBC News Brasil.
Após o estudo hagiográfico, a equipe das Osid chegou a sugerir ao Vaticano uma imagem em que, além da criança, aparecia ao lado da santa uma idosa, igualmente negra e carente, unindo assim os extremos etários que receberam atenção da freira.
Ao final da análise, optou-se por uma imagem mais simplificada. Mas, segundo Dom Murilo, a peça com a criança e a idosa ainda virá a ser utilizada nas celebrações à Santa Dulce.
Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador© Acervo Osid Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador

Representações

Isabela Marques de Souza, responsável pelo Setor de Documentação e Pesquisa do Museu de Arte Sacra da Bahia, observa que o menino Jesus presente nas imagens de alguns santos quase sempre é aloirado e tem olhos claros, mantendo uma tradição eurocêntrica iniciada no período Renascentista.
"Chama atenção essa iconografia de Irmã Dulce não só pela criança negra, que pode sim ser vista como o menino Jesus, mas também porque não é comum que as santas mulheres, nas imagens, carreguem o menino Jesus. Ou seja, a Santa Dulce traz um lado da força da mulher", diz a museóloga.
Ela prossegue: "Mesmo a Nossa Senhora, nas suas variadas representações no Brasil, nas imagens em que carrega o filho (Jesus), é uma criança branca de olhos claros, ainda que tenha nascido na região da Palestina".
Em igrejas e santuários ao redor do mundo, o menino Jesus só é representado por crianças negras quando, nas imagens, está no colo das Virgens Negras, representações da Virgem Maria que guardam forte devoção em algumas comunidades de tradição cristã.
É o caso da Nossa Senhora Negra de Montserrat, na Espanha, da Nossa Senhora da Nazaré, em Portugal, e da Nossa Senhora de Czestochowa, na Polônia.
Para o professor do Departamento de História da Universidade Federal da Bahia Evergton Sales de Souza, independentemente das interpretações, a imagem da Santa Dulce é "coerente".
"A criança negra pode ser lida como o menino Jesus, mas é também a representação das milhares de crianças que Irmã Dulce ajudou, quase todas negras", diz Souza, que é pesquisador CNPq de História Moderna e História Religiosa.
"E é uma ótima oportunidade para esta igreja de agora, a igreja do papa Francisco, de ter uma representação de diversidade, para mostrar que Jesus não tem cor, Jesus pode ser da maneira que qualquer pessoa enxergar. Talvez isso não fosse possível numa igreja comandada por Bento XVI, por exemplo", completa o pesquisador.
Na sua opinião, a representação da Santa Dulce dos Pobres dialoga com o contexto atual do catolicismo e das questões em pauta na sociedade.
"Irmã Dulce convivia com as pessoas nas ruas de Salvador, é uma santa que todo mundo efetivamente conheceu. E ela tem um legado de engajamento e de luta por justiça social. Roma está pensando nisso no papado de Francisco, que de alguma forma está conectado ao seu tempo. Não é à toa que a declaração da santidade de Dulce ocorre durante o Sínodo da Amazônia, que está discutindo questões sociais, ambientais e indígenas. A Santa Dulce que carrega uma criança negra é isso: uma santa conectada ao seu tempo", conclui o historiador.

A trajetória da primeira santa brasileira

Prestes a ser declarada Santa Dulce dos Pobres, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador. Filha de uma família de classe média, perdeu a mãe aos 7 anos, tendo sido criada pelo pai junto com mais quatro irmãos e irmãs.
Desde cedo, já demonstrava aptidão para a caridade e, ainda na adolescência, dava comida e fazia curativos em pessoas em situação de rua na porta de casa, em Nazaré, na região central da capital baiana.
Apaixonada por futebol e torcedora do Esporte Clube Ypiranga — time da classe popular e de enorme sucesso na Bahia no início do século XX —, Maria Rita formou-se para o magistério em dezembro de 1932.
Dois meses depois, realizou seu grande sonho naquele momento: entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em São Cristóvão (Sergipe).
Consagrada freira em agosto de 1933, adota o nome de Irmã Dulce, em homenagem à sua mãe. Dali, retorna à cidade natal, onde constrói sua trajetória de dedicação aos mais pobres.
Em 1932, Irmã Dulce entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus© Acervo Osid Em 1932, Irmã Dulce entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus
Em 1935, Irmã Dulce dá início a seu trabalho assistencial em comunidades carentes, sobretudo nos Alagados, conjunto de palafitas que havia na Baía de Todos os Santos, no bairro de Itapagipe, de perfil operário.
Após criar um posto médico para moradores da região, funda em 1936 a União Operária São Francisco — primeira organização operária católica do Estado, que deu origem ao Círculo Operário da Bahia.
A partir de então, a freira passa a recolher doentes pelas ruas de Salvador, especialmente na região da Cidade Baixa. Durante mais de uma década, ela ocupa diversos espaços da cidade com estes enfermos, tendo de sair após sucessivas expulsões.
Até que, em 1949, sem ter onde alojar 70 doentes, Irmã Dulce consegue autorização da sua superiora e ocupa um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, do qual era integrante.
Sem ter onde alojar 70 doentes, Irmã Dulce conseguiu autorização para ocupar um galinheiro© Acervo Osid Sem ter onde alojar 70 doentes, Irmã Dulce conseguiu autorização para ocupar um galinheiro
Sem pudor de pedir doações por todos os cantos da capital baiana, Irmã Dulce foi expandindo sua ocupação a partir do galinheiro e, em 1959, inaugurou no mesmo local a Associação Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). No ano seguinte, já estava erguido o Albergue Santo Antônio — que anos depois daria lugar ao hospital de mesmo nome.
Franzina, mas cheia de energia, a freira batia em todas as portas — do pequeno comerciante ao grande empresário. Assim, criou relações nos mais diversos espectros sociais e políticos.
"Não entro na área política, não tenho tempo para me inteirar das implicações partidárias. Meu partido é a pobreza", disse em certa ocasião.
Assim, conseguia manter entre os doadores das Osid nomes como o do empresário Mamede Paes Mendonça, do banqueiro Ângelo Calmon e dos ex-governadores da Bahia Lomanto Júnior, Juracy Magalhães e Antônio Carlos Magalhães. O ex-presidente José Sarney também era seu fiel doador e, em 1988, chegou a indicar Irmã Dulce para o Prêmio Nobel da Paz.
Freira batia em todas as portas para pedir doações e manter seu trabalho social© Acervo Osid Freira batia em todas as portas para pedir doações e manter seu trabalho social
A freira morreu no dia 13 de março de 1992, aos 77 anos, no mesmo quarto do Convento Santo Antônio em que dormiu por mais de cinco décadas.
Hoje, a entidade criada por ela é um dos maiores organismos de saúde do Brasil e oferece atendimento 100% gratuito, mantendo-se por meio de repasses do Sistema Único de Saúde (SUS), convênios estatais, venda de produtos e doações de empresas e pessoas físicas.
Há, no entanto, uma discrepância entre a receita que chega pelos repasses do SUS e as despesas geradas pelos atendimentos. Por isso, somente em 2018, o balanço das Osid foi fechado com um prejuízo de aproximadamente R$ 11 milhões.
Irmã Dulce morreu no dia 13 de março de 1992, aos 77 anos© Acervo Osid Irmã Dulce morreu no dia 13 de março de 1992, aos 77 anos
"O ano passado foi bem difícil. As doações são o que nos socorre e ameniza um pouco a situação", diz Sérgio Lopes, assessor corporativo da entidade. Segundo ele, as doações correspondem a 5% da receita.
De janeiro a agosto deste ano, apontam os relatórios das Osid, o prejuízo da operação ficou em R$ 5,2 milhões, com estimativa de chegar perto de R$ 8 milhões até dezembro.
"Nossa expectativa é ir diminuindo gradativamente esse prejuízo com o aumento de repasses e doações, especialmente com a canonização. Já percebemos esse movimento após o anúncio do Vaticano. Tem gente que não pode doar dinheiro, mas oferece trabalho voluntário, prestação de serviços. Dizemos sempre que o maior milagre de Irmã Dulce é este complexo, que só fez crescer mesmo após sua morte."
Galinheiro onde Irmã Dulce atendia doentes tornou-se uma associação de obras sociais© Acervo Osid Galinheiro onde Irmã Dulce atendia doentes tornou-se uma associação de obras sociais
Anualmente, as Osid realizam cerca de 3,5 milhões de atendimentos ambulatoriais na Bahia, somando o complexo em Salvador e unidades públicas de saúde geridas pela organização no interior do Estado.
No local onde havia o antigo galinheiro, hoje fica uma praça de convivência do Hospital Santo Antônio, que realiza mais de 2 mil atendimentos por dia e 12 mil cirurgias anuais. Ali, as estruturas erguidas por Irmã Dulce seguem ativas ao lado de unidades recentes, como a de Alta Complexidade em Oncologia.
Neste mesmo complexo, trabalham 3 mil pessoas, incluindo 300 médicos, além de cerca de 300 voluntários.