domingo, 24 de abril de 2011

'A história de nós dois': Clarissa Garotinho e Rodrigo Maia

Possíveis candidatos a prefeito e a vice em 2012, os filhos de Garotinho e de Cesar Maia trocam perguntas sobre política e administração municipal
Rio - O deputado federal Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia (DEM-RJ), 40 anos, bancário, é filho do ex-prefeito Cesar Maia, que, por três mandatos (12 anos), comandou o Rio de Janeiro e, para mais uma gestão de quatro anos, fez seu sucessor, Luiz Paulo Conde, hoje, seu ex-aliado. Nasceu no Chile, onde seu pai se exilou nos Anos de Chumbo, e conheceu sua mãe, Mariangeles. A deputada estadual Clarissa Barros Assed Matheus de Oliveira (PR-RJ), 28, jornalista, é filha dos ex-governadores do Rio Garotinho e Rosinha. Nasceu em Campos, reduto político de seus pais. Pai e filha são do PR. A mãe, expulsa do PMDB, poderá ingressar no mesmo partido.
Cesar Maia está sem mandato — tentou o Senado em 2010, mas não deu. E hoje trabalha nos bastidores para fortalecer seu atual partido, o DEM, mergulhado numa crise nacional, e apresentá-lo como alternativa à candidatura à reeleição, em 2012, do prefeito Eduardo Paes, político inventado por ele, hoje, seu desafeto. Garotinho foi o deputado federal mais votado do estado em 2010, com mais de 694 mil votos. É presidente estadual do PR e também não anda nada feliz com os rumos de seu partido na Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj). Rosinha deve tentar se reeleger prefeita de Campos.

‘CONVERSANDO’ COM O PSDB

Os Garotinhos, como os Maias, são oposição a quem está no poder hoje no Rio: Paes e o governador Sérgio Cabral (PMDB). Estão “conversando” com o PSDB.
Rodrigo acaba de inaugurar seu quarto mandato como deputado federal, currículo precioso para um político que só vai fazer 41 anos em 12 de junho: foi reeleito em 2010 com mais de 86 mil votos, sua marca mais baixa desde 1998. Clarissa, que ainda não tem a expressão de Rodrigo na capital do País e nem 30 anos (a idade histórica só vem em 2 de julho de 2012), foi eleita, pela primeira vez, deputada estadual, ano passado, com mais de 118 mil votos. Foi a quinta parlamentar e a primeira mulher mais votada no estado.
O que os chefes das duas famílias têm em comum? Até há pouco tempo, nada. Pelo contrário, estavam em lados opostos e se atacavam. Mas, por essas voltas que o mundo dá, os dois patriarcas decidiram que estava na hora de unir os clãs para formar um bloco de gente grande e tentar derrubar Paes. Os dois grupos têm, digamos, bons motivos para a missão. Maia e Garotinho, agora, apostam nos filhos, que deverão compor a chapa como candidatos a prefeito e a vice-prefeito.
Rodrigo com Clarissa ou Clarissa com Rodrigo? Cesar Maia diz que ainda não “botou o termômetro”. Garotinho diz que vai depender do que disserem as pesquisas que o grupo vai fazer. A única certeza que os dois têm agora é que o voto evangélico faz — como fez, em 2010 — a diferença. Estão, surpresa!, afinados.
A convite de O DIA, o filho de Cesar Maia e a filha de Garotinho trocaram perguntas sobre política e administração municipal.
CLARISSA GAROTINHO: O Choque de Ordem promovido pelo governo do prefeito Eduardo Paes persegue camelôs, reboca veículos e é acusado de derrubar casas para favorecer a especulação imobiliária. Esse é o Choque de Ordem do qual a nossa cidade precisa?
RODRIGO MAIA: Mais grave. Quando a repressão é feita para exaltar a própria repressão é intimidação. E esta leva sempre à corrupção.
CLARISSA: Em que Rodrigo Maia é diferente do (ex-prefeito do Rio) Cesar Maia?
RODRIGO: São duas gerações diferentes: a nova tem a grande vantagem de contar com a experiência da anterior e também com novos conhecimentos somados.
CLARISSA: Qual a sua visão sobre a aprovação automática nas escolas?
RODRIGO: Nunca houve isso. Basta ver que o primeiro ciclo, entre as séries 1ª a 3ª, ficou exatamente igual. E os outros dois só funcionaram um ano e foram cancelados e não se teve como avaliar. Tratar a escola pública com ensino seriado e seletivo é impedir o acesso dos mais pobres. Por isso, Darcy Ribeiro defendia os ciclos.
CLARISSA: Como foi a experiência de presidir nacionalmente um partido que fez oposição a um presidente com tanta popularidade? (Rodrigo foi presidente do DEM até março, quando o senador José Agripino Maia, do Rio Grande do Norte, primo em segundo grau de Cesar Maia, assumiu com a missão de conter a crise do partido)
RODRIGO: Uma experiência única que provavelmente não se repetirá nos próximos 30 anos e incorpora a experiência mais importante: fazer política na adversidade.
CLARISSA: Nos próximos anos, o Rio vai sediar quatro grandes eventos esportivos: os Jogos Militares, a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas. O que fazer para que esses eventos tragam benefícios para quem mora no Rio?
RODRIGO: O mais importante é garantir que eles sejam realizados exatamente da forma como foram projetados.
RODRIGO MAIA: A participação da juventude na política tem diminuído. Qual sua experiência coordenando um grande grupo de jovens?
CLARISSA GAROTINHO: Antigamente, os jovens enxergavam na política um caminho para lutar por causas coletivas. Hoje, a impressão da maioria dos jovens é que os políticos estão mais preocupados com seus interesses pessoais. Isso desmonta a democracia representativa. Sempre incentivo a participação da juventude. Novas gerações contribuem para modificar práticas que deixam a população indignada.
RODRIGO: Os programas de inclusão social mostraram sua eficácia contra a pobreza. Como devem ser desdobrados daqui para frente?
CLARISSA: Os programas precisam ir além, cobrando metas para que os pais mantenham os filhos na escola. E oferecendo aos jovens cursos profissionalizantes. Não podem deixar as pessoas acomodadas.
RODRIGO: De que forma o Rio pode tirar o melhor proveito de eventos como a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016?
CLARISSA: Não podemos repetir a experiência dos jogos Pan-Americanos, que não corresponderam às expectativas de grandes transformações na cidade. Os recursos devem ser usados nos equipamentos esportivos, mas precisamos priorizar os investimentos em infraestrutura e transportes.
RODRIGO: Qual deve ser a prioridade da Reforma Eleitoral?
CLARISSA: Mais que uma reforma eleitoral, precisamos de uma reforma política. Essas reformas precisam ter como foco o fortalecimento dos partidos para que a população saiba claramente sua ideologia política.
RODRIGO: Qual a sua opinião sobre a entrega da emergência dos grandes hospitais às Organizações Sociais (OS)?
CLARISSA: Sou contra a entrega dessas emergências para as OS, como foi anunciado pela prefeitura. A lei que regulamenta as OS no município só permite que uma organização social assuma unidades novas, criadas depois da lei. O prefeito Eduardo Paes está descumprindo uma Lei Municipal.

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