segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Chefão da Rocinha escapa por condomínio de luxo

Rio - Testemunhas relatam ontem que o chefe do tráfico na Rocinha, Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, escapou da polícia ao invadir, escoltado por um grupo de traficantes, o condomínio Village São Conrado. O bando rendeu porteiros e vigilantes numa das entradas, na Avenida Aquarela do Brasil, e saiu pelos fundos, na Autoestrada Lagoa-Barra. “Foi uma cena incrível. Com fuzis, pistolas e granadas, eles fizeram uma barreira em torno de um homem, porque outro gritava toda hora: ‘protejam o chefe!’, contou V., 35 anos.
Quando ouvi o barulho dos tiros, o porteiro interfonou dizendo que os bandidos tinham passado por dentro do condomínio para chegar à autoestrada. Tinha muita munição no chão”, afirmou um engenheiro, de 62 anos.

Empregado de um edifício na Av. Aquarela do Brasil, J. disse que já “cansou” de ver ‘bondes’ passando pela via entre o fim das madrugada de sextas-feiras e o início das manhãs de sábado. “Isso é comum. Todo mundo já viu. Eles passam com armas pesadas em punho em motos, vans, Kombis e até em carros de luxo ”, disse.
Atingido por dois tiros no braço direito, o mecânico A., 40 anos, não consegue tirar da memória os momentos de pavor que enfrentou. “Consertava o motor de um carro na rua quando a guerra começou. Me joguei no chão, atrás do veículo, mas duas balas me atingiram. Sorte que em pleno tiroteio, um senhor parou o carro com a porta aberta para eu entrar e me levou para o Hospital Miguel Couto. Ele já levava outro homem baleado. Queria reencontrá-lo para agradecer, mas sequer sei o seu nome”, lamentou.
O outro baleado foi o despachante de ônibus Wallace Oliveira, 34 anos, atingido por um tiro de raspão no tórax. Ele se abaixou dentro de uma pequena cabine da Viação Amigos Unidos, que ficou com várias marcas de tiros.
Motorista da Comlurb traumatizado
Abalado, o motorista da Comlurb que ficou no meio do tiroteio entre policiais e bandidos, na manhã de sábado, na Avenida Aquarela do Brasil, pensa em largar a profissão. “Ele está muito traumatizado. Disse que passou a noite acordado e que tem dificuldades em conversar sobre o episódio”, contou um colega.
Para os amigos, o motorista descreveu que, ao ficar no fogo cruzado, saiu abaixado do caminhão de lixo e correu para se proteger em um condomínio. O veículo foi usado como escudo pelos traficantes durante o confronto com os PMs.
Ontem, em cada esquina de São Conrado, só havia um assunto: o dia de terror da véspera. “Vi tudo da minha janela do décimo sexto andar. Vestidos com coletes pretos, os bandidos berravam, atiravam para todos os lados e tentavam render motoristas que passavam. Quase não acreditei quando eles entraram no hotel”, disse a moradora Suad Afif, 57 anos, que reside há 25 num prédio próximo ao Intercontinental, e somente no início da tarde saiu de casa para levar seus dois cães para passear.

Reportagem de Francisco Edson Alves e Vania Cunha

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