segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Em delação, ‘Rei Arthur’ confirma compra de votos para Rio-2016

'Rei Arthur' em Miami Beach© Reprodução / TV Globo 'Rei Arthur' em Miami Beach
O empresário Arthur Menezes Soares Filho, conhecido como “Rei Arthur”, confirmou o esquema de pagamento de propina para delegados africanos para a escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016, segundo o jornal O Globo.
Arthur foi preso na última sexta-feira (25), em Miami, nos Estados Unidos, ao tentar renovar o visto. A declaração sobre o escândalo de pagamentos ilegais faz parte de um acordo de colaboração premiada feito com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que evitou o risco de deportação para o Brasil.
As investigações mostram que “Rei Arthur” usou a offshore Matlock Capital Group para transferir 2 milhões de dólares para a conta de Papa Diack, filho de Lamine Diack, então presidente da Federação Internacional de Atletismo. Outros 10 milhões de dólares foram mandados para o ex-governador Sergio Cabral através do doleiro Renato Chebar.
O depósito, de acordo com o jornal O Globo, foi feito em setembro de 2009, três dias antes da escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos.
O ex-governador Sérgio Cabral é acusado de receber mais de 10 milhões em propina do empresário entre março de 2012 e novembro de 2013. Preso, ele nega a acusação e diz que não tinha contas no exterior.

Empresário ‘Rei Arthur’ admite compra de votos para escolha do Rio como sede das Olimpíadas, diz jornal

O empresário Arthur Soares.© DIVULGAÇÃO O empresário Arthur Soares.
O empresário Arthur Menezes Soares Filho, conhecido como "Rei Arthur", confirmou em depoimento ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos a existência de um esquema de propina entre representantes brasileiros e africanos do Comitê Olímpico Internacional (COI) que garantiu a escolha do Rio de Janeiro como cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016, aponta reportagem publicada em O Globo. Dono do grupo Facility, que prestava serviços ao ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, ele assinou um acordo de delação premiada no país, onde foi preso na última sexta-feira. Ele estava foragido desde 2017.
Segundo o jornal, Soares confirma que agiu como operador financeiro a pedido do ex-governador. Cabral confirmou o pagamento em depoimento feito no Brasil há três meses. Segundo a Operação Unfair Play, desdobramento da Lava Jato que apura indícios de corrupção na candidatura do Rio como sede olímpica, o empresário transferiu dois milhões de dólares no dia 29 de setembro de 2009, três dias antes da escolha da cidade como sede, através da offshore Matlock Capital Group para a conta bancária do senegalês Papa Diack, filho de Lamine Diack, presidente da Federação Internacional de Atletismo na época "em busca de votos favoráveis à campanha do Rio de Janeiro". A operação teria sido combinada com Leonardo Gryner, braço direito do então presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman.
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Arthur Soares constava na lista de procurados da Interpol e era foragido da Justiça brasileira desde abril de 2017, quando deixou o país para viver em Miami. O empresário foi preso pela imigração americana na manhã da última sexta-feira por falta de visto, mas liberado 24 horas depois. A deportação do alvo da Lava Jato foi impedida pelo acordo de delação e não há prazo para a extradição do brasileiro.

Cabral admitiu propina em julho

O esquema de suborno pela escolha do Rio confirmado por Arthur Soares já havia sido admitido pelo ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, para o juiz Marcelo Bretas no mês de julho. O político, já condenado a 198 anos de prisão em nove processos criminais, prestou depoimento no processo em que é acusado de receber 10,4 milhões de dólares em propina de Arthur Soares e ocultar o valor no exterior entre março de 2012 e novembro de 2013. "Pagamos para ter a garantia dos votos", confessou Cabral na época.
O ex-governador contou que o acordo inicial previa a compra de cinco a seis votos entre os membros africanos do COI e outros ligados à federação de atletismo para o Rio de Janeiro com os 1,5 milhão de dólares. No entanto, na noite de 14 de setembro de 2009, os representantes se encontraram em um salão nobre de Paris para uma festa que ficou conhecida como "Farra dos Guardanapos", onde Lamine Diack pediu mais 500.000 dólares para conseguir até nove votos. Cabral diz ter aceitado a oferta. A escolha pelo senegalês, segundo o então governador, se deu graças a uma sugestão de Carlos Arthur Nuzman, que citou Diack como alguém que "se abre para vantagens indevidas". Com nove votos a menos, o Rio de Janeiro não teria superado a candidata Chicago na primeira fase da eleição.
Lamine Diack permanece em prisão domiciliar na França, enquanto seu filho, Papa Diack, é considerado foragido em Senegal. Enquanto Cabral está preso no Rio de Janeiro e Arthur Soares segue vivendo em Miami, Nuzman está em liberdade no Brasil, mas não pode deixar o país. Ele renunciou à presidência do COB e chegou a ser detido pela Unfair Play por 15 dias, mas foi solto com habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça.

sábado, 12 de outubro de 2019

Irmã Dulce: como se constrói a 'imagem oficial' de uma santa?

Para compor a imagem canônica, equipe da Osid estudou trajetória de Irmã Dulce© Acervo Osid Para compor a imagem canônica, equipe da Osid estudou trajetória de Irmã Dulce
Como é decidida a representação oficial de uma santa? Como se compõe a imagem que será, desde a canonização, venerada pelos católicos do mundo?
A canonização de Irmã Dulce pelo papa Francisco, marcada para o domingo (13/10), marcará também a formalização da chamada "imagem canônica". E a criação dessa imagem leva em conta diversos fatores — a maioria ligada ao histórico de milagres e benfeitorias da santa ou santo em questão.
Com dois milagres oficialmente reconhecidos pelo Vaticano, a freira baiana Irmã Dulce ficou conhecida nas ruas de Salvador por uma atitude bem terrena: ao longo da vida, acolheu e cuidou de todas as pessoas que buscaram sua ajuda, especialmente aquelas mais miseráveis.
A trajetória de caridade da freira está agora representada na simbologia da Santa Dulce dos Pobres.
Em sua imagem canônica oficial, Irmã Dulce é vista com seu tradicional hábito azul e branco (vestes de quem integra a congregação de Nossa Senhora da Conceição), traz à mão um terço de Maria — de quem era devota — e carrega no colo uma criança negra, sem roupas, descalça e desnutrida que, de acordo com uma possível leitura iconográfica da peça, representa o menino Jesus.
"Para propor essa imagem, nossa equipe fez a hagiografia do santo, ou seja, estudamos toda a trajetória do indivíduo. Nada representa melhor a vida de Irmã Dulce do que o seu trabalho incansável junto às pessoas mais pobres. E, em Salvador, os mais pobres também são predominantemente negros. Ela mesma falava: 'esse é o meu povo. Em cada pessoa que eu ajudo, eu vejo Jesus'", lembra Osvaldo Gouveia, assessor de Memória e Cultura das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid).
Ao mostrar Irmã Dulce carregando a criança, imagem passa também mensagem sobre força da mulher, diz museóloga.© Acervo Osid Ao mostrar Irmã Dulce carregando a criança, imagem passa também mensagem sobre força da mulher, diz museóloga.
"Mas, vale observar que, apesar de estar desnutrido, a expressão do menino na imagem é de serenidade, não de tristeza, porque quem encontrava Irmã Dulce encontrava a esperança", emenda.

Interpretações diversas

Museólogo e ex-professor de Arte Sacra, Gouveia explica que a leitura iconográfica de cada santo, ou seja, o significado por trás dos símbolos presentes nas imagens, carrega marcas do contexto histórico em que as obras são criadas e subjetividades ligadas àquele personagem.
Santo Antônio, por exemplo, leva o menino Jesus nos braços nas imagens porque teria sido visto conversando com o mesmo ao se abrigar num convento, no século 12.
Já São Cristóvão, que carrega o menino Jesus no ombro, é representado dessa maneira por ter sido um homem muito alto e forte que, tendo vivido no século 3, certa feita teria carregado Jesus na travessia de um rio.
"A leitura é particular, por isso há espaço para muitas interpretações. No caso da imagem da Santa Dulce, a gente vê entre os devotos. Popularmente, é muito forte essa associação da criança negra com o menino Jesus, especialmente na Bahia", completa Gouveia.
Equipe das Osid também sugeriu ao Vaticano uma imagem em que, além da criança, há uma mulher idosa© Acervo Osid Equipe das Osid também sugeriu ao Vaticano uma imagem em que, além da criança, há uma mulher idosa
Afastando a associação direta, Dom Murilo Krieger, arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, opta somente pela leitura histórica. "Irmã Dulce acolheu muitas crianças pobres (o primeiro atendimento que ela deu foi a um menino de 15 anos). Ela morava em Salvador, onde 80% da população é afrodescendente. Então, ao se pensar em uma imagem dela, não poderia faltar uma criança afrodescendente. Ela via em cada criança (mas também em cada doente, pobre, abandonado, idoso) o próprio Jesus", afirmou em e-mail à BBC News Brasil.
Após o estudo hagiográfico, a equipe das Osid chegou a sugerir ao Vaticano uma imagem em que, além da criança, aparecia ao lado da santa uma idosa, igualmente negra e carente, unindo assim os extremos etários que receberam atenção da freira.
Ao final da análise, optou-se por uma imagem mais simplificada. Mas, segundo Dom Murilo, a peça com a criança e a idosa ainda virá a ser utilizada nas celebrações à Santa Dulce.
Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador© Acervo Osid Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador

Representações

Isabela Marques de Souza, responsável pelo Setor de Documentação e Pesquisa do Museu de Arte Sacra da Bahia, observa que o menino Jesus presente nas imagens de alguns santos quase sempre é aloirado e tem olhos claros, mantendo uma tradição eurocêntrica iniciada no período Renascentista.
"Chama atenção essa iconografia de Irmã Dulce não só pela criança negra, que pode sim ser vista como o menino Jesus, mas também porque não é comum que as santas mulheres, nas imagens, carreguem o menino Jesus. Ou seja, a Santa Dulce traz um lado da força da mulher", diz a museóloga.
Ela prossegue: "Mesmo a Nossa Senhora, nas suas variadas representações no Brasil, nas imagens em que carrega o filho (Jesus), é uma criança branca de olhos claros, ainda que tenha nascido na região da Palestina".
Em igrejas e santuários ao redor do mundo, o menino Jesus só é representado por crianças negras quando, nas imagens, está no colo das Virgens Negras, representações da Virgem Maria que guardam forte devoção em algumas comunidades de tradição cristã.
É o caso da Nossa Senhora Negra de Montserrat, na Espanha, da Nossa Senhora da Nazaré, em Portugal, e da Nossa Senhora de Czestochowa, na Polônia.
Para o professor do Departamento de História da Universidade Federal da Bahia Evergton Sales de Souza, independentemente das interpretações, a imagem da Santa Dulce é "coerente".
"A criança negra pode ser lida como o menino Jesus, mas é também a representação das milhares de crianças que Irmã Dulce ajudou, quase todas negras", diz Souza, que é pesquisador CNPq de História Moderna e História Religiosa.
"E é uma ótima oportunidade para esta igreja de agora, a igreja do papa Francisco, de ter uma representação de diversidade, para mostrar que Jesus não tem cor, Jesus pode ser da maneira que qualquer pessoa enxergar. Talvez isso não fosse possível numa igreja comandada por Bento XVI, por exemplo", completa o pesquisador.
Na sua opinião, a representação da Santa Dulce dos Pobres dialoga com o contexto atual do catolicismo e das questões em pauta na sociedade.
"Irmã Dulce convivia com as pessoas nas ruas de Salvador, é uma santa que todo mundo efetivamente conheceu. E ela tem um legado de engajamento e de luta por justiça social. Roma está pensando nisso no papado de Francisco, que de alguma forma está conectado ao seu tempo. Não é à toa que a declaração da santidade de Dulce ocorre durante o Sínodo da Amazônia, que está discutindo questões sociais, ambientais e indígenas. A Santa Dulce que carrega uma criança negra é isso: uma santa conectada ao seu tempo", conclui o historiador.

A trajetória da primeira santa brasileira

Prestes a ser declarada Santa Dulce dos Pobres, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914, em Salvador. Filha de uma família de classe média, perdeu a mãe aos 7 anos, tendo sido criada pelo pai junto com mais quatro irmãos e irmãs.
Desde cedo, já demonstrava aptidão para a caridade e, ainda na adolescência, dava comida e fazia curativos em pessoas em situação de rua na porta de casa, em Nazaré, na região central da capital baiana.
Apaixonada por futebol e torcedora do Esporte Clube Ypiranga — time da classe popular e de enorme sucesso na Bahia no início do século XX —, Maria Rita formou-se para o magistério em dezembro de 1932.
Dois meses depois, realizou seu grande sonho naquele momento: entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em São Cristóvão (Sergipe).
Consagrada freira em agosto de 1933, adota o nome de Irmã Dulce, em homenagem à sua mãe. Dali, retorna à cidade natal, onde constrói sua trajetória de dedicação aos mais pobres.
Em 1932, Irmã Dulce entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus© Acervo Osid Em 1932, Irmã Dulce entrou para a Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus
Em 1935, Irmã Dulce dá início a seu trabalho assistencial em comunidades carentes, sobretudo nos Alagados, conjunto de palafitas que havia na Baía de Todos os Santos, no bairro de Itapagipe, de perfil operário.
Após criar um posto médico para moradores da região, funda em 1936 a União Operária São Francisco — primeira organização operária católica do Estado, que deu origem ao Círculo Operário da Bahia.
A partir de então, a freira passa a recolher doentes pelas ruas de Salvador, especialmente na região da Cidade Baixa. Durante mais de uma década, ela ocupa diversos espaços da cidade com estes enfermos, tendo de sair após sucessivas expulsões.
Até que, em 1949, sem ter onde alojar 70 doentes, Irmã Dulce consegue autorização da sua superiora e ocupa um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, do qual era integrante.
Sem ter onde alojar 70 doentes, Irmã Dulce conseguiu autorização para ocupar um galinheiro© Acervo Osid Sem ter onde alojar 70 doentes, Irmã Dulce conseguiu autorização para ocupar um galinheiro
Sem pudor de pedir doações por todos os cantos da capital baiana, Irmã Dulce foi expandindo sua ocupação a partir do galinheiro e, em 1959, inaugurou no mesmo local a Associação Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). No ano seguinte, já estava erguido o Albergue Santo Antônio — que anos depois daria lugar ao hospital de mesmo nome.
Franzina, mas cheia de energia, a freira batia em todas as portas — do pequeno comerciante ao grande empresário. Assim, criou relações nos mais diversos espectros sociais e políticos.
"Não entro na área política, não tenho tempo para me inteirar das implicações partidárias. Meu partido é a pobreza", disse em certa ocasião.
Assim, conseguia manter entre os doadores das Osid nomes como o do empresário Mamede Paes Mendonça, do banqueiro Ângelo Calmon e dos ex-governadores da Bahia Lomanto Júnior, Juracy Magalhães e Antônio Carlos Magalhães. O ex-presidente José Sarney também era seu fiel doador e, em 1988, chegou a indicar Irmã Dulce para o Prêmio Nobel da Paz.
Freira batia em todas as portas para pedir doações e manter seu trabalho social© Acervo Osid Freira batia em todas as portas para pedir doações e manter seu trabalho social
A freira morreu no dia 13 de março de 1992, aos 77 anos, no mesmo quarto do Convento Santo Antônio em que dormiu por mais de cinco décadas.
Hoje, a entidade criada por ela é um dos maiores organismos de saúde do Brasil e oferece atendimento 100% gratuito, mantendo-se por meio de repasses do Sistema Único de Saúde (SUS), convênios estatais, venda de produtos e doações de empresas e pessoas físicas.
Há, no entanto, uma discrepância entre a receita que chega pelos repasses do SUS e as despesas geradas pelos atendimentos. Por isso, somente em 2018, o balanço das Osid foi fechado com um prejuízo de aproximadamente R$ 11 milhões.
Irmã Dulce morreu no dia 13 de março de 1992, aos 77 anos© Acervo Osid Irmã Dulce morreu no dia 13 de março de 1992, aos 77 anos
"O ano passado foi bem difícil. As doações são o que nos socorre e ameniza um pouco a situação", diz Sérgio Lopes, assessor corporativo da entidade. Segundo ele, as doações correspondem a 5% da receita.
De janeiro a agosto deste ano, apontam os relatórios das Osid, o prejuízo da operação ficou em R$ 5,2 milhões, com estimativa de chegar perto de R$ 8 milhões até dezembro.
"Nossa expectativa é ir diminuindo gradativamente esse prejuízo com o aumento de repasses e doações, especialmente com a canonização. Já percebemos esse movimento após o anúncio do Vaticano. Tem gente que não pode doar dinheiro, mas oferece trabalho voluntário, prestação de serviços. Dizemos sempre que o maior milagre de Irmã Dulce é este complexo, que só fez crescer mesmo após sua morte."
Galinheiro onde Irmã Dulce atendia doentes tornou-se uma associação de obras sociais© Acervo Osid Galinheiro onde Irmã Dulce atendia doentes tornou-se uma associação de obras sociais
Anualmente, as Osid realizam cerca de 3,5 milhões de atendimentos ambulatoriais na Bahia, somando o complexo em Salvador e unidades públicas de saúde geridas pela organização no interior do Estado.
No local onde havia o antigo galinheiro, hoje fica uma praça de convivência do Hospital Santo Antônio, que realiza mais de 2 mil atendimentos por dia e 12 mil cirurgias anuais. Ali, as estruturas erguidas por Irmã Dulce seguem ativas ao lado de unidades recentes, como a de Alta Complexidade em Oncologia.
Neste mesmo complexo, trabalham 3 mil pessoas, incluindo 300 médicos, além de cerca de 300 voluntários.

Contas da campanha de Bolsonaro podem passar por auditoria

Troca de farpas entre Bolsonaro e Luciano Bivar agravou uma crise dentro do partido© Reuters/A. Machado Troca de farpas entre Bolsonaro e Luciano Bivar agravou uma crise dentro do partido
Em novo capítulo da crise entre o presidente e seu partido, PSL decide encomendar análise externa de suas contas, diz imprensa. Medida vem logo após Bolsonaro pedir dados dos últimos cinco anos da legenda para auditoria.
O PSL decidiu pedir auditoria nas contas da campanha presidencial de Jair Bolsonaro do ano passado, segundo informou a imprensa brasileira neste sábado (12/10), em mais um capítulo da crise que se instalou entre o presidente e seu próprio partido.
A reação veio logo após Bolsonaro e 21 parlamentares – entre eles seu filho Flávio Bolsonaro, senador pelo PSL no Rio de Janeiro – terem assinado um documento pedindo ao presidente nacional do partido, Luciano Bivar, que abra todas as contas da legenda nos últimos cinco anos.
O pedido do grupo visa a realização de uma auditoria independente e externa nas contas do PSL, que vai analisar como foram usados os recursos obtidos por meio do Fundo Partidário.
Após a medida dos parlamentares, que cobram auditoria de 2014 a 2019, o PSL decidiu reagir e, na tentativa de se antecipar à ofensiva do presidente, vai solicitar ele próprio uma auditoria nas contas da campanha de Bolsonaro em 2018, ano em que ele ingressou na legenda.
Segundo o portal de notícias G1, citando um integrante do PSL, a sigla iniciou um processo que deixará "as vísceras do partido expostas". O jornal Folha de S. Paulo afirma que dirigentes do partido já estariam cotando empresas que possam realizar essa auditoria, a fim de reunir argumentos caso a batalha acabe na Justiça.
A crise instalada dentro do partido veio após declarações públicas recentes de Bolsonaro, que envolveram uma troca de farpas entre o presidente e Luciano Bivar.
Nesta semana, Bolsonaro chegou a recomendar a um militante que "esquecesse" o PSL, sinalizando que poderia deixar a sigla em breve. O movimento seria acompanhado por uma série de aliados do presidente no Congresso.
Na ocasião, o mandatário também afirmou que Bivar, deputado federal e presidente do PSL, "está queimado para caramba" em seu estado, Pernambuco.
Na terça-feira, Bolsonaro cumprimentava simpatizantes na saída do Palácio da Alvorada quando um apoiador disse a ele: "Eu, Bolsonaro e Bivar. Juntos por um novo Recife." O presidente respondeu: "Cara, não divulga isso não, cara. O cara tá queimado para caramba lá. Entendeu? E vai queimar o meu filme também. Esquece esse cara. Esquece o partido."
Na quarta-feira, Bivar reagiu afirmando que a fala de Bolsonaro foi "terminal". "Ele já está afastado. Não disse para esquecer o partido? Está esquecido", disse o presidente do PSL ao G1.
"O que pretendemos é viabilizar o país. Não vai alterar nada se Bolsonaro sair, seguiremos apoiando medidas fundamentais. [...] Ele pode levar tudo do partido, só não pode levar a dignidade, o sentimento liberal que temos e o compromisso com o combate à corrupção", completou Bivar.

O pedido de Bolsonaro

A solicitação feita por Bolsonaro e os parlamentares, sob orientação de advogados, foi entregue a Bivar na sexta-feira. Ela pede uma lista completa de fontes de receitas, despesas e funcionários, bem como a descrição das atividades dos dirigentes partidários financiadas pelo partido.
Os documentos solicitados devem ser entregues em um prazo de cinco dias. Caso o prazo não seja cumprido, medidas judiciais podem ser tomadas: segundo o jornal Estado de S. Paulo, os advogados pretender acionar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para pedir acesso às contas.
"Uma superficial verificação das prestações de contas do partido demonstra que as mesmas sempre são apresentadas de forma precária, sem a apresentação de documentos simples, de técnica contábil básica, como balanço anual de receitas e despesas", afirma o texto, assinado pelos advogados Karina Kufa, que deixou de representar o PSL para defender Bolsonaro, e Marcello Dias de Paula.
O documento acrescenta que a conduta do partido pode ser interpretada como forma de "dificultar a análise e camuflar possíveis irregularidades, ou seja, comportamento discrepante com a moralidade que a Constituição Federal exige de qualquer gestor de recursos públicos".

Possível desfiliação

Analistas veem o pedido de auditoria nas contas do PSL como uma tentativa por parte dos parlamentares de encontrar irregularidades que possam embasar uma argumentação jurídica para evitar prejuízos caso esses deputados e senadores deixem a legenda.
Se Bolsonaro se desfiliar e for seguido por seus apoiadores no Congresso, o grupo vai tentar evitar a perda dos mandatos, bem como que o PSL fique com todo o recurso dos fundos partidário e eleitoral a que tem direito nas próximas eleições.
De acordo com a legislação, o mandato de um deputado federal pertence ao partido pelo qual ele foi eleito e, se ele deixar a legenda fora da janela partidária, o suplente pode ser convocado. O mesmo não ocorre com presidente da República e senadores, eleitos em pleitos majoritários.
Até então um partido nanico, em 2018 o PSL elegeu a segunda maior bancada da Câmara, ficando atrás somente do PT. Na esteira da popularidade de Bolsonaro, o sucesso nas urnas garantiu ao partido um Fundo Partidário de 110 milhões de reais em 2019.

sábado, 5 de outubro de 2019

Bolsonaro responde com baixaria ao ser perguntado sobre Queiroz

O presidente Jair Bolsonaro demonstrou irritação na manhã deste sábado, 5, ao ser questionado sobre o paradeiro de Fabrício Queiroz , ex-assessor de seu filho Flávio Bolsonaro.
No portão do Palácio da Alvorada, Bolsonaro cumprimentava alguns de seus apoiadores quando ouviu um homem de bicicleta perguntar: “E o Queiroz?”.  “Tá com a sua mãe”, respondeu o presidente, que se preparava para andar de moto dentro das dependências do palácio.
 Bolsonaro fica irritado ao ser perguntado sobre Queiroz© reprodução  Bolsonaro fica irritado ao ser perguntado sobre Queiroz
Fabrício Queiroz é pivô de um esquema de lavagem de dinheiro que ocorria na Assembleia Legislativa do Rio quando Flávio Bolsonaro era deputado estadual. Queiroz movimentou R$ 7 milhões em de 2014 a 2017, de acordo com relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras). Flávio e Queiroz são alvo de procedimento investigatório do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Queiroz é ex-motorista e ex-segurança do hoje senador Flávio BolsonaroQueiroz é ex-motorista e ex-segurança do hoje senador Flávio Bolsonaro

Paradeiro de Queiroz

Em agosto, a revista Veja descobriu que Fabrício Queiroz estava em São Paulo. Ele foi flagrado pela reportagem passando pela porta do Centro de Oncologia e Hematologia do Hospital Albert Einstein, no Morumbi, zona sul da capital paulista. O hospital fica no mesmo bairro em que ele mora atualmente.

Bolsonaro volta a criticar Luciano Huck e compra de jato com recursos do BNDES

© AFP / EVARISTO SAO presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar o apresentador Luciano Huck por uso dos recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a compra de um jato particular. Em participação por vídeo conferência no 3º Simpósio Conservador de Ribeirão Preto (SP), Bolsonaro fez referência a um empréstimo de R$ 17,7 milhões feito por Luciano Huck no BNDES em 2013, para a compra de uma aeronave particular da Embraer. Os empréstimos eram parte de um programa do banco destinado a financiar investimentos de empresas, chamado Financiamento de Máquinas e Equipamentos (Finame) usado para a compra da aeronave.
"Alguém quer um dinheiro do BNDES pagando 4% aí? Ele diz aqui que está viajando o Brasil. Obviamente, viajando o Brasil com o (inaudível) BNDES. Alguém acha que o povo vai votar no pau mandado da Globo, mas não estamos aqui fazendo campanha. É um direito dele", afirmou Bolsonaro.
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo mostrou que o nome de Luciano Huck é peça central na articulação de um grupo de políticos, economistas e representantes de movimentos de renovação para a construção de uma alternativa de centro diante do cenário de polarização da política nacional.
Em entrevista à revista Marie Claire, a apresentadora Angélica, mulher de Huck, afirmou que uma eventual candidatura do marido para a Presidência da República é um "chamado". "Não posso dizer que acho muito legal Luciano sair candidato, não seria verdade, mas tem uma hora que você não está mais no controle. É uma espécie de chamado", disse.
Lei de Abuso
Bolsonaro disse ainda que não vai questionar a derrubada dos vetos da Lei de Abuso de Autoridade no Supremo Tribunal Federal (STF), pois os Poderes da República são independentes. O evento conta com a participação de congressistas, como as deputadas federais Joice Hasselmann (PSL-SP) e Bia Kicis (PSL-DF).
"Eu vetei grande parte da Lei de Abuso de Autoridade. O Parlamento derrubou o veto. Essa lei entra em vigor a partir do ano que vem. Lei é lei. Tem gente questionando agora, via ações de inconstitucionalidade, o STF. Eu não pretendo questionar", disse.
Durante a videoconferência, o presidente também negou ter criticado a informação de que o Supremo tentaria validar juridicamente as mensagens do aplicativo Telegram envolvendo integrantes da Operação Lava Jato. "Eu não critiquei o STF. Não critico o presidente Dias Toffoli, não critico Rodrigo Maia, não critico Davi Alcolumbre, do Senado. Nós somos Poderes independentes. A regra do jogo é essa. O que o Supremo decidir, eu tenho que cumprir. O que o Congresso votar, eu tenho o poder de vetar. Se o Parlamento derrubar o veto, são eles e não se discute mais. Eu não crio atrito."
Pacote anticrime
Bolsonaro também falou sobre a campanha para divulgar o pacote anticrime, principal bandeira do ministro da Justiça, Sergio Moro. Ele afirmou que peças publicitárias podem ser suspensas por conta de uma liminar impetrada pela oposição. "A esquerda empilha você de processo e você tem que responder o tempo todo. Por exemplo, está vindo um processo que está chegando a minha mesa que eu vou ter que suspender com o Sergio Moro a propaganda da Lei Anticrime. Vamos ver quais são os argumentos, mas chegando a liminar imediatamente vai suspender isso aí", afirmou o presidente.
A campanha publicitária é uma tentativa de salvar a discussão do pacote na Câmara que resiste a parte das mudanças propostas. Moro tem se reunido com o presidente da Casa, Rodrigo Maia, para discutir a melhor estratégia. Os dois se encontraram na semana passada e a intenção é incluir o projeto na pauta do plenário nas próximas semanas.
Pressionado por Moro no início do ano para acelerar a votação do pacote, Maia chegou a desmerecer o projeto ao dizer se tratar de um "copia e cola" de outra proposta já apresentada na Câmara, formulada com ajuda do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Na semana passada, após a reunião com Moro, o presidente da Câmara voltou a pedir "cautela" com o projeto e disse ser contrário ao trecho que trata do excludente de ilicitude.

‘Chegando a liminar, imediatamente vai suspender’, diz Bolsonaro sobre publicidade do pacote anticrime

A campanha do ministro da Justiça deve ser veiculada na TV (aberta e fechada), cinema, rádio, internet, além de mobiliário urbano© Sérgio Lima/Poder360 A campanha do ministro da Justiça deve ser veiculada na TV (aberta e fechada), cinema, rádio, internet, além de mobiliário urbano
O presidente Jair Bolsonaro admitiu neste sábado (5.out.2019) que há risco real de suspensão da campanha publicitária do pacote anticrime. “Está vindo mais 1 processo, chegará às minhas mesas. Eu vou ter que suspender, junto com Sergio Moro [Justiça], a propaganda da lei anticrime.”
A declaração foi feita na abertura do 3º Simpósio Conservador de Ribeirão Preto, por vídeo conferência.
Mais cedo, o Poder360publicou reportagem informando que é real a chance de as propagandas da campanha do ministro Sergio Moro serem proibidas na semana que se inicia.
Bolsonaro também se queixou da quantidade de processos que chegam até ele: “Eu tenho que me virar. Contratar advogados para me defender […] É chato essa vida, porque a esquerda empilha você de processos e você tem que responder o tempo todo”.
Deputados de oposição apresentaram requerimento ao TCU (Tribunal de Contas de União) pedindo a suspensão da campanha.
O ministro do TCU Vital do Rêgo deve começar a analisar o caso na 2ª feira (7.ou). Ele deve decidir de maneira monocrática na 3ª feira ou até 4ª. O plenário do Tribunal deve ratificar a decisão na 4ª feira à tarde, quando será realizada a 1ª sessão depois da decisão de Vital do Rêgo.