segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Primeira disputa nas urnas após a ditadura teve recorde de candidatos: 22

O homem que lutou contra a ditadura e que esteve à frente dos principais momentos da história contemporânea do país cometeu um erro político e assim acabou sem qualquer chance de chegar ao Palácio do Planalto. O ex-deputado Ulysses Guimarães amargou uma sétima colocação nas eleições presidenciais de 1989, a única da qual participou em sua carreira, e também a primeira do processo de redemocratização do Brasil. Um ano antes, durante a Constituinte, o ex-deputado desvinculou os pleitos presidenciais dos estados. Era uma maneira de manter as bases trabalhando, mas para candidaturas distintas. Isso não ocorreu com relação ao ex-deputado, que acabou abandonado pelos correligionários nos estados.


Ulysses, que ficou conhecido como o Senhor das Diretas Já, sempre esteve à frente de acontecimentos marcantes, como bancar a posse do então presidente e hoje senador, José Sarney (PMDB-AP), no Palácio do Planalto, após a morte de Tancredo Neves. “O doutor Ulysses Guimarães era uma espécie de Lula daquela época”, lembra Marco Aurélio Costa, dono do Piantella, restaurante na 202 Sul frequentado pelo ex-deputado e que, por muito tempo, foi reduto da oposição ao regime militar.

O revés dos peemedebistas começou com o fracasso do Plano Cruzado, um pacote de medidas econômicas adotadas por Sarney em 1986 para baixar a inflação. Até então, o PMDB tinha uma boa posição no cenário político brasileiro. “Enquanto o Cruzado deu certo, o partido fez mais de 20 governadores e a maioria no Senado e na Câmara”, explica Marco Aurélio, que passou a ser um dos seguidores de Ulysses, com quem convivia há mais de 30 anos. Todos achavam que o partido iria eleger qualquer candidato ao Planalto, mas isso acabou não acontecendo por um erro involuntário do próprio Ulysses. “Durante a Constituinte, ele havia desvinculado as eleições presidenciais. O doutor Ulysses achava que os prefeitos eleitos iriam trabalhar para ele nas bases. Mas isso não ocorreu”, conta Marco Aurélio. O ex-deputado só ganhou dos principais adversários em Tubarão (SC) e São Lourenço da Mata (PE).

Picadinho

Marco Aurélio ainda mantém a mesma mesa que Ulysses utilizava para tomar algumas decisões importantes, no mezanino do restaurante, muitas vezes comendo picadinho de carne, como prato principal, e sorvete de creme com cobertura de chocolate, de sobremesa. Foi no estabelecimento que o político começou a alinhavar sua candidatura, onde foi amargar a derrota e deixou exemplos de vida. No último dia de campanha, em 1989, ele jantou no Piantella, quando se deparou com jovens usando adevisos de Lula. Ao vê-lo, os rapazes tentaram desgrudar a propaganda das roupas, mas o próprio Ulysses impediu. “Ele disse ao grupo: eu lutei pela democracia, por isso, podem colocar o adesivo de volta ao peito de vocês”, conta Marco Aurélio. No mesmo lugar, ele deixou várias lembranças, como o cheque de 130 mil cruzeiros que pagou um jantar em 12 de agosto de 1985, quando assumiu a Presidência da República, durante uma viagem de Sarney ao exterior, e as seis receitas(1), para ser um bom político.

Além de Ulysses, personagens atuais da política brasileira disputaram as eleições de 1989. O senador Fernando Collor de Melo (PTB) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entraram na corrida eleitoral. O ex-governador de Alagoas chegou à campanha como o caçador de marajás em seu estado, enquanto que Lula tinha a seu lado a nata da intelectualidade e do mundo artístico, e o fato de ter sido operário. Os dois enfrentaram expoentes do cenário nacional, como o próprio Ulysses, Mário Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS), Leonel Brizola (PDT), entre outros, mas tiveram 16 concorrentes.

A eleição de 1989 também trouxe ao cenário político nacional novos personagens, como Lívia Maria de Abreu (PN), a primeira candidata mulher que disputou o Planalto. O povo conheceu o médico Enéas Carneiro (Prona), que conseguiu 360 mil votos dizendo rápidas palavras nos parcos segundos que dispunha no rádio e na televisão. Mais tarde, se tornaria um dos deputados federais mais votados de São Paulo. Fernando Gabeira lançou o PV naquele ano, e também entrou na corrida presidencial, mas teve pouco mais de 125 mil votos. Armando Corrêa (PMB) foi o que obteve menor votação: 4,3 mil.

1 - Conselhos

As seis receitas foram criadas por Ulysses Guimarães durante uma entrevista:

1) Não seja impaciente;

2) Na política, se não puder fazer amigo, não faça inimigo;

3) Nunca se deve proferir palavras irretratáveis;

4) Nunca deve estar tão próximo de alguém que amanhã possa ser inimigo;

5) É preciso aprender a arte de escutar;

6) A arma do grande político é o trabalho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário