segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Dornelles e Dias lideram batalha final pelos royalties no Senado

Hoje ocorre reunião para tentar acordo sobre partilha do recursos entre Estados. Petista leva vantagem sobre 'raposa' do Congresso

De um lado, uma velha raposa do Congresso: Francisco Dornelles (PP-RJ), cinco mandatos como deputado e há quatro anos e 10 meses senador. Do outro, um novato que tem se destacado na Casa: Wellington Dias (PT-PI), quatro anos como deputado federal e apenas 10 meses no Senado. A geografia, o tempo e as classes sociais os separam, mas a fala mansa os iguala nos embates sobre a nova distribuição de royalties de petróleo em discussão no Senado. A última batalha de argumentos está marcada para esta segunda-feira, quando vão tentar firmar um acordo sobre o projeto de lei que aumenta o repasse de recursos da União para Estados não produtores de petróleo.

    Em defesa do Rio, Dornelles e Lindbergh Farias (PT-RJ) lutam para manter royalties de áreas já licitadas

Perfil de raposa

Mineiro com carreira política no Rio de Janeiro, Francisco Oswaldo Neves Dornelles, 76 anos, assumiu o papel de negociador contra as mudanças na partilha. O Estado fluminense é o maior produtor de petróleo do País. E, com a descoberta do pré-sal, já planejava ganhar muito mais para poder pagar dívidas e fazer investimentos a longo com prazo. Para tanto, contava com recursos de áreas de exploração já licitadas. Sua principal luta, portanto, é para manter as coisas como estão.

“O desaparecimento ou redução dos recursos oriundos de royalties e participação especial de áreas já licitadas retirariam do Estado do Rio de Janeiro recursos já comprometidos”, disse Dornelles, em discurso em plenário na semana passada. O senador tem ressaltado que o fato poderá levar o governo fluminense à insolvência com a União. “Por isso, queremos garantir que o que já foi licitado não se mexe”, afirmou ao iG, na semana passada.

É justamente o oposto do que pensa José Wellington Barroso de Araújo Dias, 49 anos, piauiense de Oeiras, cidade que fica a 313 km da capital Teresina. No município encrustado no semi-árido nordestino, onde a caatinga e o cerrado se confundem, o mineral mais produzido é a argila. O senador petista representa o interesse dos Estados não-produtores de petróleo, que formam maioria no Congresso.

Apesar da vantagem numérica, Dias não deixa de ouvir Dornelles. “Tenho muito respeito por ele. É uma pessoa preparada, experiente”, disse. “Mesmo em desvantagem, ele não desiste. É homem paciente. Apesar de representar o Rio de Janeiro, luta como um bom mineiro”, afirma o senador petista, que está no primeiro ano de mandato no Senado. Antes, Dias foi governador do Piauí, entre 2003 e 2010.

Quando Dias ingressou no PT em 1985, Dornelles era nada mais, nada menos que o ministro da Fazenda. Ou seja, na prática, o dono das chaves dos cofres do Brasil. Dornelles chegara ao posto por indicação do tio, Tancredo Neves, que havia sido eleito presidente da República pelo Colégio Eleitoral mas que morrera antes de tomar posse em 21 de abril daquele ano. José Sarney assumiu em seu lugar e manteve a indicação do nome de Dornelles para o Ministério.

Em agosto de 1985, Dornelles acabou deixando a Fazenda. Antes disso, porém, já possuía uma larga experiência política e, sobretudo, administrativa. No governo João Figueireido (1979-1985), havia sido secretário da Receita Federal. Na primeira administração de Tancredo à frente do governo de Minas Gerais, no fim dos anos 50, comandou a Secretaria de Finanças.

Além do laço familiar com Tancredo por parte de mãe, Dornelles é primo em segundo grau do ex-presidente Getúlio Vargas. O avô dele, Ernesto Francisco Dornelles, gaúcho de São Borja, era irmão de Cândida Dornelles Vargas, a mãe de Getúlio. Portanto, o pai do senador do PP do Rio do Janeiro, Mozart Dornelles, era primo em primeiro grau do presidente que governou o País por duas vezes (1930-1945 e 1951-1954).

Getúlio Vargas foi fundador do PTB, partido pelo qual Dornelles ensaiou uma candidatura a deputado estadual em Minas Gerais em 1962. Ele só desistiu porque ganhou uma bolsa de estudos no exterior. Naquele mesmo ano, nascia Wellington Dias, filho de um caminhoneiro chamado João Antônio Neto e de Teresinha Araújo Dias, professora. Apesar de ter nascido em Oeiras, Dias foi criado na cidade de Paes Landim.

            Dias, à esquerda, conversa com José Pimentel (PT-CE), líder do governo no Congresso


Estilo prodígio

Em 1982, Dias formou-se em Letras pela Universidade Federal do Piauí. A vida profissional, no entanto, teve início como bancário, onde se destacou também como dirigente sindical. No mesmo período em que se filiou ao PT, iniciou suas atividades à frente da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Entre 1986 e 1989, foi presidente da Associação de Pessoal da Caixa Econômica Federal. Na sequência, assumiu o comando do Sindicato dos Bancários do Estado do Piauí.

Enquanto isso, em Brasília, Francisco Dornelles se consolidava ano após ano como um importante articulador no Congresso. Depois que saiu da Fazenda, em 1985, disputou uma cadeira de deputado federal constituinte no ano seguinte. Na formulação da Constituição de 1988, Dornelles teve papel destacado ao presidir a Comissão do Sistema Tributário, Orçamento e Finanças. Em 1990, reelegeu-se deputado.

Em seguida, tentou disputar pela primeira vez um cargo majoritário. Foi candidato a prefeito do Rio de Janeiro e amargou o sétimo lugar. A má experiência também resultou numa troca de partido. Em 1993, ele deixou o PFL, no qual havia ingressado em 1987. Dornelles acabou se filiando ao PDS, partido que tinha como origem a Arena, ligada à ditadura militar. O curioso é que o PFL havia sido criado em 1985 por um grupo de políticos dissidentes do PDS.

No começo dos anos 1990, Dias ocupava pela primeira vez um cargo eletivo. Em 1992, ganhou nas urnas uma cadeira de vereador em Teresina. A experiência durou pouco. Dois anos depois, foi eleito deputado estadual para Assembleia Legislativa do Piauí e, em seguida, assumiu o comando do PT no Estado. Em 1998, resolveu disputar uma cadeira de deputado federal. Venceu de novo.

Entre 1995 e 2002, Dornelles ocupou dois ministérios ao longo dos oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso. Foi primeiro ministro de Indústria e Comércio e depois assumiu a pasta do Trabalho. Em 2002, conquistou mais uma vez a reeleição para a Câmara. No mesmo ano, Dias chegou ao ponto mais alto de sua carreira ao se eleger governador do Piauí.

Em 2006, o petista disputou a reeleição e venceu. Já Dornelles concorreu pela primeira vez ao Senado e teve uma vitória surpreendente. Ele não era o favorito, mas acabou conquistando o voto do eleitorado mais conservador. Chegou ao Senado com destaque e, em 2007, assumiu a presidência do PP (Partido Progressista), nome atual da sigla que se chamava PDS.

Dornelles é hoje o principal articulador do seu partido junto ao governo Dilma Rousseff. Apesar da experiência de 50 anos de vida pública, o senador do PP não deixa de reconhecer o talento do novato Wellington Dias: “Não o conhecia, mas posso dizer que tenho a melhor impressão possível sobre ele. Competente, sério e trabalhador”.

Nesta segunda-feira, é bem provável que o novato vença a raposa. Não porque é mais esperto, mas sim porque conta com o apoio da maioria dos colegas de Senado. Dias avisou que a votação do projeto de lei dos royalties será feita esta semana "com ou sem acordo". Ele não esbravejou na tribuna para dar o recado. Publicou um carta aberta no seu site. Estilo parecido adotado por Dornelles, que publicou artigo na imprensa carioca sob o título "O Estado sob Ameaça". É briga, mas é uma briga de voz mansa.








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