sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Cabral faz de tudo para deixar de ser Cabral

Governador do Rio tenta recuperar imagem, abalada com denúncias e manifestações que pedem sua saída do cargo; ele já recuou na demolição do Parque Aquático Júlio de Lamare e, hoje, do Estádio de Atletismo Célio de Barros, alvo de críticas da população; disse que estava precisando de um toque de humildade, o que teria conseguido com a visita do papa à cidade; nesta quinta-feira, Sergio Cabral admitiu erros e, agora, a nova: avalia voltar atrás na privatização do Maracanã, reformado por mais de R$ 1 bi e concedido ao amigo Eike Batista.
 
Com a imagem abalada devido a denúncias e às frequentes manifestações que pedem sua saída – do cargo de governador do Rio e até como morador do bairro do Leblon – Sergio Cabral tem se concentrado, ultimamente, em deixar de ser Sergio Cabral. Aparentemente, é o que lhe resta para diminuir a rejeição que conquistou especialmente em seu segundo mandato no Estado: apenas 12% da população consideram sua gestão ótima ou boa, de acordo com levantamento realizado pelo Ibope. É ele o governador mais mal avaliado, dentre 11 estados pesquisados pelo instituto.
 
Nos últimos dias, suas ações têm mudado em prol da recuperação de sua credibilidade com o povo do Rio. Em uma entrevista concedida à rádio CBN nesta quinta-feira, Cabral chegou a dizer que cometeu erros, principalmente de falta de diálogo, o que, segundo ele, sempre foi sua marca. "Acho que da minha parte faltou mais diálogo, uma capacidade de entendimento e de compreensão", admitiu o governador. Logo após a visita do papa, disse que estava precisando de uma dose de humildade, o que teria acontecido com a vinda do pontífice à cidade. "A figura do papa me tocou. Certamente eu estava precisando muito de uma dose de humildade", afirmou Cabral.
 
Na última semana, ele anunciou a desistência de demolir o Parque Aquático Júlio de Lamare, no entorno do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã. E na manhã desta sexta-feira 2, anunciou ainda, após reunião com o prefeito Eduardo Paes e autoridades do esporte no Palácio Guanabara, que também não irá mais demolir o Estádio de Atletismo Célio de Barros. Os dois seriam substituídos por prédios num projeto do novo Maracanã e a decisão de demolir as estruturas era muito criticada por atletas e vista com maus olhos pela população. Quando comentou o episódio do Júlio de Lamare, voltou a admitir erros: "Eu errei em não ouvir, por isso estou voltando atrás".
 
Reportagem da Folha de S.Paulo desta sexta-feira revela que o governador estuda voltar atrás numa outra ação que causou a revolta dos moradores do Rio de Janeiro: a concessão do Maracanã à iniciativa privada. A possibilidade também faz parte das recentes mudanças do plano do governo para o entorno do estádio. Numa coletiva de imprensa na última segunda-feira, ele admitiu ter cometido os erros de não ter ouvido atletas nem a população durante o processo de licitação – que foi motivo de protestos diários na frente do estádio. O Maracanã foi reformado com mais de R$ 1 bilhão e o consórcio vencedor do processo é de um amigo seu: Eike Batista.
 
Aliados contaminados
 
O trabalho de Cabral para recuperar sua imagem será árduo, uma vez que assessores de seus aliados já têm dado conselhos que miram o afastamento da pessoa do governador. A presidente Dilma Rousseff e o prefeito Eduardo Paes já foram alertados de que ficar ao lado de Cabral não é lá uma boa ideia. Ele próprio considera sair antes do governo – em abril de 2014, para disputar uma vaga no Senado –, decisão que beneficiaria seu candidato a sucessor, o vice Luiz Fernando Pezão.

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