sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Com média de 4,7 anos por partido, Ciro coleciona farpas com ex-colegas

  • Alan Marques/Folhapress
    Ciro Gomes (centro) cumprimenta Carlos Lupi (dir.) ao se filiar ao PDT, em setembro do ano passado
    Ciro Gomes (centro) cumprimenta Carlos Lupi (dir.) ao se filiar ao PDT, em setembro do ano passado
A reunião do diretório nacional do PDT desta sexta-feira (22) será a primeira ocasião em que praticamente todos os principais líderes do partido irão se encontrar após a chegada da mais nova estrela da legenda: o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes. Conhecido pelo que ele mesmo chama de "inconstância partidária", Gomes chega à sua sétima legenda alçado à condição de pré-candidato à Presidência da República em 2018, mas com uma curiosa média de 4,7 anos de permanência em cada partido e um rastro de farpas pontiagudas trocadas entre ele e seus antigos correligionários.
Ciro Gomes começou sua vida partidária em 1982 no antigo PDS, partido que sucedeu a Arena (Aliança Renovadora Nacional), legenda que sustentava politicamente a ditadura militar. Naquele ano, Ciro é eleito deputado estadual pelo Ceará. Em 1983, troca o PDS pelo PMDB, partido pelo qual ele foi eleito prefeito de Fortaleza em 1988.
Em 1990, Ciro troca o PMDB pelo PSDB e é eleito governador do Ceará. Em 1996, Ciro sai do PSDB e se filia ao PPS, partido no qual ele disputa (e perde) duas eleições presidenciais. Em 2005, Ciro muda novamente de partido, desta vez para o PSB. Em 2013, porém, Ciro Gomes deixa o PSB e vai para o Pros, partido no qual ele fica até setembro de 2015, quando Gomes migra para o PDT.
A "inconstância partidária" de Gomes é criticada por um de seus ex-colegas do PPS, o deputado federal Roberto Freire (SP). "Ele foi candidato à Presidência pelo nosso partido por duas vezes. Isso não é pouca coisa, mas não fomos tratados com o devido respeito. Quando rompemos com o Lula, ele preferiu ficar no governo e não respeitou a decisão do partido", critica Freire, presidente nacional do PPS. 
O parlamentar é duro ao falar sobre a saída de Ciro Gomes do seu partido. "Ele não tem compromisso com nada que não seja o próprio interesse", disse Freire. Em 2005, quando Gomes deixou o PPS, ele criticou a condução do partido feita por Freire alegando que o parlamentar dirigia o partido sem consultar as bases
Alan Marques/Folhapress
Ciro Gomes e Roberto Freire em 2002 ao anunciarem apoio no segundo turno das eleições de 2002 para Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Outro que também critica a passagem de Ciro por seu partido é o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira. Por esta legenda, Ciro foi eleito deputado federal em 2010 e decidiu sair em 2013, quando a sigla optou pela candidatura à Presidência da República do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em agosto de 2014 em um acidente aéreo durante a campanha.
Siqueira critica a postura de Gomes ao deixar o partido sobretudo porque, segundo ele, o comando da legenda não pediu os mandatos dos parlamentares do grupo político de Gomes de volta. "Depois de acertarmos tudo, depois que a gente não pediu os mandatos, ele deu declarações bastante grosseiras sobre o Eduardo e sobre o partido", disse Siqueira. À época, Gomes disse que Eduardo Campos era "oportunista" e um "zero completo"
Siqueira diz que a atitude de Gomes e outros integrantes de seu grupo político, que inclui seu irmão e ex-governador do Ceará, Cid Gomes, não corresponde a uma vida partidária. "Em certa medida, é um grupo que age como uma família. Tem suas lideranças e age de acordo com os seus interesses. Não são interesses de partido e a história deles mostra isso pelas sucessivas trocas de partido", afirmou Siqueira.
Alan Marques/Folhapress
Em 2009, o então deputado federal Ciro Gomes, à época filiado ao PSB, participou de almoço do partido com o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB)
A extensa ficha corrida de desentendimentos de Ciro com seus antigos correligionários não assusta o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, que o abriga agora. "Isso não me assusta nem um pouco. A vinda dele para o nosso partido é como o encontro do rio com o mar. Ele sempre teve uma afinidade ideológica com as bandeiras do PDT. Não acho que vamos ter problemas", disse Lupi.
Apesar das declarações do presidente do partido, a chegada de Gomes já causou reações dentro do próprio PDT. O senador Cristovam Buarque (DF), criticou o status de "pré-candidato" à Presidência da República dado informalmente a Ciro Gomes. "O Lupi me rifou completamente. Ele resolveu que o candidato do partido será Ciro Gomes", disse Cristovam, que cogitava lançar sua própria candidatura à Presidência.
A reportagem do UOL entrou em contato por telefone celular com a assessoria de imprensa de Ciro Gomes, mas foi informada de que, até a realização da reunião do diretório nacional do PDT, nesta sexta-feira (22), ele não dará entrevistas. 

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