terça-feira, 2 de novembro de 2010

Falta de perspectivas na economia assombra democratas na eleição

Antes símbolo de esperança e mudança, Obama enfrenta descontentamento e frustração de eleitores na votação desta terça-feira

Insatisfeitos com o atual cenário econômico dos Estados Unidos, os americanos vão às urnas nesta terça-feira eleger deputados, senadores e governadores, com o mesmo objetivo que embalou as eleições presidenciais há dois anos: o desejo de mudança.

A previsão é de que os democratas, que mantêm maioria na Câmara dos Deputados e no Senado, percam cadeiras para os republicanos, que representam ruptura com o atual governo. Em um revés para o Partido Democrata, os republicanos devem conquistar ao menos 225 das 435 cadeiras na Casa e têm a chance de conseguir maioria também no Senado.
Dentre os motivos que podem levar à derrota do partido do presidente Barack Obama, que enfrenta queda de popularidade dentro de casa, o descontentamento da população com o ritmo lento da recuperação econômica é apontado como o principal.



Foto: AFP

Em campanha, presidente americano tenta contornar queda de popularidade dentro de casa (30/10/2010)

Distante do movimento simbolizado pela frase “Yes, we can” (Sim, nós podemos) – que indicava uma agenda ambiciosa para um novo país, hoje os americanos vivem em uma nação onde o nível de desemprego chega a 9,6% e o crescimento econômico parece insuficiente para um novo Estados Unidos.
“A recuperação da economia ainda está devagar e anêmica, o que proporciona uma grande oportunidade para a oposição explorar raiva, medo e insatisfação e atrair votos para minar o governo”, explicou ao iG Kirk Buckman, do Departamento de Ciência Política da Universidade de New Hampshire.
Segundo dados do Departamento de Comércio dos EUA, a economia americana registrou uma pequena aceleração no terceiro trimestre e cresceu 0,5%. A cifra, que representa uma taxa anualizada de 2%, ainda é insuficiente para reduzir o nível de desemprego, que, segundo o próprio governo, não tem previsão de melhora no curto prazo.
Pacotes de estímulo do governo, que totalizam US$ 4 bilhões, tampouco acalmam os ânimos.

Promessas

Além do cenário econômico, os democratas se veem enfraquecidos pelo fato de o governo não conseguir cumprir promessas que levaram Obama à Casa Branca. Sem recursos em caixa, a reforma da saúde, apesar de aprovada, ainda é uma meta a ser implementada. No campo externo, o fim da missão de combate no Iraque não atenuou a insatisfação com a guerra no Afeganistão, que se arrasta pelo nono ano com gastos bilionários, sem ter atingido o principal objetivo de capturar o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden.
“As pessoas estão frustradas porque Obama não conseguiu mostrar que romperia com George Bush, mudar o jeito como Washington trabalharia e defender suas posições de maneira clara dentro do partido e diante da oposição”, avaliou Cristina Pecequilo, especialista em política americana da Unesp. “Sua bandeira de 'hope' (esperança) está indo por água abaixo.”
Boa parte da esperança projetada por Obama está em reformas prometidas em campanha, como a da saúde, a da educação e a financeira. Mas, se as projeções de derrota dos democratas nas eleições desta terça-feira se confirmarem, as medidas que ainda não passaram pelo Congresso podem empacar no legislativo e comprometer os próximos dois anos de mandato.
“Com uma derrota democrata na Câmara, será muito difícil qualquer reforma importante ser aprovada”, disse David King, professor de políticas públicas da Universidade de Harvard. “A previsão é de termos dois anos paralisados em Washington e um governo dividido.”

2012

Diante de um cenário desanimador para o homem que prometeu mudar o país, Obama tenta, pelo menos, repetir o desempenho do democrata Bill Clinton, que em 1994 perdeu a maioria no Congresso, mas conquistou a reeleição dois anos mais tarde. Durante a campanha para as eleições desta terça, Obama buscou fazer frente aos republicanos – e radicais do movimento conservador Tea Party, de olho em 2012.
“Para Clinton, a eleição legislativa foi um aviso para que transformasse sua gestão. O mesmo vale para obama, que terá de pensar uma estratégia e reinventar seu governo, trazendo para si republicanos e vozes democratas dissidentes”, disse Cristina.





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