segunda-feira, 23 de julho de 2012

Espécie de hospício eleitoral, São Paulo cria zebras


BASE POLÍTICA DE UM ESQUISITO COMO JÂNIO QUADROS, ONDE O PROCURADO PELA INTERPOL PAULO MALUF É PAPARICADO PELA ESQUERDA E DONA DO DEPUTADO MAIS VOTADO DO BRASIL, O PALHAÇO TIRIRICA, CIDADE AGORA COLOCA O AZARÃO CELSO RUSSOMANO EM SITUAÇÃO DE EMPATE TÉCNICO COM O MEDALHÃO JOSÉ SERRA; É A ZEBRA RELINCHANDO DE NOVO?


Na política, São Paulo é famosa por seus 'cacarecos'. Esse foi o nome dado à rinoceronte fêmea que chegou ao zoo da cidade, em 1958, vinda do Rio, teve seu nome lançado para a Câmara dos Vereadores pelo então articulista do jornal O Estado de S. Paulo Itaboraí Martins e, em diversos cálculos, levantou mais de 100 mil votos. Um fenômeno. Do que tipo que já existira antes e se repetiria outras vezes, chegando até os dias de hoje. Afinal, quando Cacareco foi 'eleito' – o mamífero anfíbio teve de ser levado, na calada de noite, de volta ao Rio de modo à sua vitória não causar tumultos --, o prefeito da cidade era ninguém menos que Jânio Quadros. Professor de português dado a inúmeras esquisitices, ele se elegeu vereador, logo depois saltou para o cargo de prefeito, dali mesmo tornou-se governador e, nesse piscar de olhos, alcançou a presidência da República em 1961. Sua embriagada renúncia, sete meses depois, abriu a picada para o golpe militar que se daria em 1964.

Na geração anterior a Jânio, São Paulo criou verdadeira idolatria por um homem que ficou conhecido pelo slogan "Rouba mas Faz": Adhemar de Barros. Interventor federal entre 1938 e 1941, ele governou o Estado pelo voto popular entre 1947-1951 e 1963-1966, quando foi cassado pelos militares. Os historiadores apontam Adhemar como um dos pontos inaugurais das distorções sobre honestidade que até hoje infestam a política paulistana.

No périodo da ditadura, a cidade teve como vereador durante cinco mandatos consecutivos o radialista Pedro Geraldo Costa, cuja plataforma básica era a distribuição que fazia de sacolinhas de natal para a população mais carente. O massagista da Seleção Brasileira de 1970, Mario Américo, igualmente desfrutou de mandatos consecutivos. Já na década de 1980, outro radialista, Afanázio Jazadji, tornou-se campeão de votos ao desfilar tendo atrás de si um caminhão que imitava uma cela de cadeia, com personagens vivos, vestidos em roupas listradas de presos, bolas de ferro acorrentadas aos pés, que faziam cara de medo a cada vez que o barbudo futuro edil se aproximava daquela verdadeira jaula.

Em 1990, a partir de mirrados 2% nas intenções de voto, Luiz Antônio Fleury Filho elegeu-se governador na esteira do prestígio do antecessor Orestes Quércia, que após deixar o cargo carregou até a morte, em dezembro de 2010, a fama de ter aprimorado os métodos de gestão de Adhemar de Barros.

A questão dos candidatos folclóricos e das grandes zebras eleitorais outra vez se levanta na eleição paulistana. E não é à toa. Depois de fazer do palhaço Tiririca o deputado federal mais votado do Brasil, em 2010, a partir da pergunta dele "Você sabe o que faz um deputado? Nem eu!", o eleitorado paulistano outra vez se move para onde poucos esperavam. Neste sentido, com a situação de empate técnico alcançada na pesquisa Datafolha publicada no domingo 22, o deputado federal Celso Russomano pode ser a versão atual já protagonizada por Luíza Erundina, Paulo Maluf e Celso Pitta, no plano municipal, e Fleury no âmbito estadual. Quando suas respectivas corridas eleitorais começaram, eles pareciam não ter grandes chances de se eleger – à exceção, talvez, de Pitta, que contou com a máquina malufista para se popularizar. Mas o fato é que chegaram lá. O resgate da memória é importante para que se inclua, em definitivo, Russomano – um apresentador de tevê de perfil popular que se agarra à defesa do consumidor como razão de sua existência política – na categoria de rematada zebra, com todas as listras que tem direito.

Afinal, na espécie de hospício eleitoral que os pleitos paulistanos podem se transformar, o quadrúpede branco e preto já provou mais de uma vez que sabe o caminho para chegar na frente dos puro-sangue dos grandes partidos, representados, no caso, por José Serra, do PSDB, e Fernando Haddad, do PT.

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