quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Petroleiros agem contra casas em Manguinhos

Funcionários da Refinaria de Manguinhos, na zona norte do Rio, fecharam hoje a Avenida Brasil em protesto contra a desapropriação da empresa para a criação de um conjunto habitacional; anúncio do projeto foi feito pelo governador Sérgio Cabral; "Extra! Extra! Cabral cria bairro Chernobyl" e "Desapropriar: bandido sim, trabalhador não", mostram faixas.
 
Funcionários da Refinaria Manguinhos fecharam a Avenida Brasil na manhã desta quinta-feira num protesto contra a desapropriação da empresa para a criação de um bairro habitacional para moradores do complexo de favelas da zona norte do Rio de Janeiro. Os manifestantes alegam que a desapropriação acarretará em desemprego e defendem que a área é contaminada para a criação de moradias.
 
"Extra! Extra! Cabral cria bairro Chernobyl" e "Desapropriar: bandido sim, trabalhador não", mostravam as faixas do protesto desta manhã. O anúncio de criação do bairro foi feito pelo govenador Sérgio Cabral (PMDB) no último domingo, depois de a Polícia ter ocupado a comunidade. O decreto para a desapropriação da Refinaria foi publicado no Diário Oficial na segunda-feira.
 
Duas questões, porém, dificultam a realização do plano: um imbróglio jurídico, já que a empresa pede a defesa de seus direitos e alega que está investindo milhões no local, e a recuperação da área, que pode estar contaminada com resíduos químicos. De acordo com o professor Márcio Almeida, da UFRJ, a concentraçaõ de compostos químicos e metais pesados pode acarretar doenças graves aos moradores e o custo do governo para a recuperação do terreno será maior do que os R$ 100 milhões anunciados.
 
Leia abaixo reportagem da Agência Brasil sobre o assunto:
 
A possível criação de um conjunto habitacional na área ocupada pela Refinaria de Manguinhos, na zona norte do Rio de Janeiro, pode comprometer a saúde dos futuros moradores. A afirmação foi feita nesta quinta-feira 18 pelo professor de engenharia geotécnica Márcio Almeida. Ele dá aulas no Instituto de Pós-Graduação em Engenharia, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
 
O decreto de desapropriação da área foi publicado no Diário Oficial da última terça-feira 16. Para o governo estadual, o imóvel apresenta características ideais para a implantação de um projeto habitacional destinado à população de baixa renda. Técnicos do governo acreditam que será possível construir um bairro planejado, com apartamentos, escolas, áreas de lazer, postos de saúde, biblioteca, entre outros equipamentos públicos.
 
De acordo com o professor, estudos realizados no ano de 1998 e reforçados dez anos depois comprovam que no local há uma grande concentração de compostos químicos e metais pesados. Segundo ele, a quantidade destes produtos pode causar doenças graves à população como o câncer, além de contribuir para a poluição do meio ambiente.
 
Ele explica que na área foram instalados tanques para as atividades industriais de uma refinaria. Na execução de suas funções, os trabalhadores usam equipamentos específicos para a proteção. "Foi tudo aterrado para colocar os tanques. Com certeza esse aterro está contaminado. Para a atividade industrial se coloca uma laje, se faz uma cartilagem e os trabalhadores têm equipamentos que isolam os materiais, mas quando se fala em conjunto habitacional, é outra realidade", disse.
 
Márcio Almeida afirma que para o governo construir um conjunto habitacional será necessário recuperar da área contaminada. Ele calcula que os R$ 100 milhões estimados pelo estado serão insuficientes para completar o trabalho. "O gasto é muito elevado. Com esse valor não vai ser possível completar a recuperação", afirmou o professor, acrescentando que o tempo necessário é de 2 a 3 anos.
 
Criada no anos 50, a Refinaria de Petróleo de Manguinhos é uma empresa privada de capital aberto. De acordo com nota divulgada pela assessoria de imprensa, a companhia refinou nos últimos 12 meses mais de três milhões e 500 mil barris de petróleo. Além disso, gera mil empregos diretos e quatro mil indiretos e contribui com a comunidade local por meio do projeto Usina da Cidadania. Segundo a empresa, o projeto atende a 750 crianças inscritas no programa educacional e de esportes.
 
A empresa assegura que desenvolve projetos para ampliação e modernização de seu parque de refino e estocagem. Entre as iniciativas estão: a expansão do terminal de tanques de armazenagem, com um investimentos previstos de R$ 1,4 bilhão. "Desta forma, dando continuidade ao trabalho de modernização e expansão de novos negócios, a companhia tem a tranquilidade e a certeza de estar no rumo acelerado de desenvolvimento, ampliando novas oportunidades de negócios em seu parque estratégico de refino e tancagem", diz a nota.

Nenhum comentário:

Postar um comentário