domingo, 14 de fevereiro de 2016

Operadoras querem vender imóveis para fazer dinheiro

Sistemas que ocupavam vários andares hoje cabem em salas

iG Minas Gerais 
Um dos prédios da Embratel em BH tem ponto nobre no centro
Charles Silva Duarte – 17.3.2004
Um dos prédios da Embratel em BH tem ponto nobre no centro
Rio de janeiro. Com o avanço da internet em alta velocidade pelo celular, a telefonia fixa, quem diria, virou o calcanhar de Aquiles das empresas de telecomunicações. No momento em que se discute a revisão do marco regulatório do setor, as concessionárias Oi, Telefônica Vivo, Embratel, Sercomtel e Algar lutam para se desfazer de uma das principais heranças da privatização, ocorrida em 1998: os prédios que abrigavam as antigas e enormes centrais telefônicas, uma rede de sistemas que permite ao usuário fazer e receber chamadas de voz.
As teles travam disputa com o órgão regulador, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), para tentar vender ou alugar boa parte dos mais de 8.500 imóveis no país, avaliados em R$ 3,3 bilhões, de acordo com documentos enviados à Comissão de Valores Mobiliários. O valor equivale a mais da metade do investimento anual da Oi, de R$ 5,2 bilhões, por exemplo.
Especialistas avaliam que as empresas, endividadas, pretendem usar os imóveis para levantar recursos e melhorar seus resultados financeiros. Embora os prédios, em sua maioria, tenham sido construídos antes da privatização, as teles avaliam que são donas. O governo entende que elas só têm a posse dos bens.
A disputa está longe de acabar. De um lado, as concessionárias alegam que esses prédios não são mais essenciais para prover o serviço de telefonia fixa, já que, com o avanço da tecnologia, esses sistemas, que antes ocupavam diversos andares, se resumem hoje a alguns pares de computadores em uma sala. E mais: afirmam que, se conseguissem se desfazer dos imóveis, poderiam reinvestir em infraestrutura, melhorando a qualidade do serviço.
A Anatel cita a lei do setor, que exige que as concessionárias tenham os bens. A lógica é que, caso a concessão não seja renovada em 2025, os futuros interessados devem ter os imóveis para oferecer o serviço de voz. A decisão sobre o imbróglio deve parar no Congresso. “Com a crise, as empresas estão reduzindo investimentos. Para as teles, o importante é prover o serviço; para o governo a visão é patrimonial. Mas, mesmo que se chegue a uma solução, o governo tem que ter garantias de que elas vão investir na rede”, avalia o consultor Virgílio Torres.
Em meio ao impasse, muitos prédios estão vazios ou subutilizados, dizem as teles, que destacam os gastos com segurança e limpeza. Ostentam sedes em bairros nobres: caso da Oi no Leblon, no Rio de Janeiro, com seus R$ 13,5 mil por metro quadrado, um dos mais caros do Brasil, segundo a Zap Imóveis. Se antes a central telefônica ocupava todos os oito andares do prédio, hoje cobre 25% do andar térreo. “Temos 7.000 imóveis travados”, disse Carlos Eduardo Monteiro, diretor de Regulamentação e Assuntos Institucionais da Oi. O medo é que o dinheiro ‘suma’
RIO DE JANEIRO. Segundo uma fonte do setor, com trânsito no governo, a preocupação é que as teles vendam os imóveis e, em vez de investir em infraestrutura, distribuam lucros aos acionistas. Assim, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) adota postura conservadora, com receio de questionamentos do Tribunal de Contas da União (TCU). Por isso, o assunto deve ser incluído no projeto de lei que vai rever a regulamentação do setor.    “Quem garante que as empresas vão investir em rede? Uma das propostas em discussão é que, em vez desses ativos voltarem à União, seja feito um cálculo com a diferença entre o valor dos ativos e o que foi investido. O residual teria de ser aplicado na expansão da banda larga. Quando se fala de reversibilidade não são só prédios, mas terrenos e rede de infraestrutura, como os cabos”.   Mudança na lei. Para permitir a venda dos imóveis, o governo deverá substituir a classificação das empresas, que deixariam de ter concessão para ter autorização. Hoje, diferentemente de empresas com autorização, as concessionárias são obrigadas a seguir metas de atendimento. As teles querem se livrar dessas obrigações, o que não deve ser aceito. Mas, disse a fonte, a ideia é substituir parte das exigências por outras, como investimento em banda larga.   O consultor Ercio Alberto Zilli lembrou que a obrigatoriedade em manter os ativos era uma forma de assegurar a prestação da telefonia fixa, tida como essencial há quase 20 anos. Mas ele defende que, com a mudança tecnológica, as empresas conseguem oferecer o serviço sem a necessidade de manter prédios e cabos de cobre. “As regras são muito severas. Mas a necessidade mudou e o usuário hoje quer internet”.

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